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sábado, 19 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23010: In Memoriam (427): Notícia do falecimento do nosso camarada Alberto Roxo Cruz, PilAv da BA 12 (Bissalanca, 1968/70 e 1972/74)

IN MEMORIAM

PilAv Alberto Roxo Cruz
BA 12 - Bissalanca, 1968/70 e 1972/74

********************


1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69, com data de 18 de Fevereiro de 2022:

Caro Carlos Vinhal:

Envio-te desta vez uma notícia triste, uma vez que noticia o desaparecimento de um camarada que cumpriu duas Comissões de Serviço na antiga Província da Guiné.


Partiu o Pil/Aviador Alberto Roxo Cruz.

Cumpriu a 1.ª Comissão de 1968 a 1970 e a 2.ª entre 1972 e 1974.

Piloto de Fiat G-91, foi também Comandante da Esquadra de RONCOS (T-6).

Escapou a uma ejecção de Fiat, quando em voo de bombardeamento no Tancroal se soltou um dos Painéis de Metralhadoras. (*)

Foi um bom camarada, homem de grandes princípios, simples, e amigo do seu amigo.


Que a sua alma descanse em paz.

Agradeço a publicação. (**)
Abraço,
Mário Santos
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2. À família do nosso camarada Alberto Roxo Cruz, os editores e a tertúlia deste Blogue de antigos Combatentes da Guiné, enviam o seu mais sentido pesar pela perda do seu ente querido.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18767: FAP (109): Testemunho sobre a minha ejecção na Guiné em 04OUT1973 (Alberto Roxo Cruz / Mário Santos)

FIAT G-91 R4 em voo


1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2018:

Caro camarada Carlos.
Envio-te para publicação no blogue, este artigo descrito na primeira pessoa pelo meu amigo ex-Capitão Pil./Av. Alberto Roxo Cruz, do qual obtive prévia autorização para publicar.

Este é mais um dramático evento ocorrido nos dias da GUINÉ pelo Capitão Pil./Av. Alberto Roxo Cruz no decorrer da sua segunda comissão em Bissalanca em 04 Outubro de 1973.
Meu contemporâneo aquando da primeira estadia na BA12 em 1969 onde as acções se passaram dentro da normalidade de guerra, emparceirou depois entre 1972/74 com o nosso camarada tabanqueiro TGen. António Martins Matos que lhe deu cobertura após a ejecção do Fiat G-91 R4 n.° 5409 ocorrida em Outubro de 73.

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Este foi um acidente vivido já nos dias do Strela pelo Cap.Piloto/Aviador Alberto Roxo Cruz que se ejectou no Fiat G-91 5409 e felizmente sobreviveu para hoje nos poder contar como foi. A descrição contém opiniões e relata factos que não poderão obviamente ser comprovados, pela distancia temporal e também porque muita documentação relativa ao acidente foi destruída. 

Mário Santos

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Testemunho sobre a minha ejecção na Guiné em 04OUT1973

Alberto Cruz

Este acidente ocorreu a cerca de 50km Nordeste de Bissau, na zona do Tancroal.

Eu fazia parte, como asa, de uma formação de dois Fiat G91 R4.

Estávamos a desenvolver uma acção de bombardeamento, seguida de metralhamento, numa área onde tinha sido referenciada, por informações, a existência de um Grupo de atiradores de Míssil Strela. Creio que posteriormente estava prevista uma acção de pára-quedistas ou outras forças terrestres transportadas por helicópteros Alouette III.

Após termos executado dois passes de bombardeamento com bombas de 50 e 200 kg, iniciamos, um de cada vez, um passe de metralhamento de ângulos grandes (MAG).

Quando iniciei o disparo das metralhadoras, senti um grande estrondo no avião e a perda total de controlo do mesmo, assim como uma enorme quantidade de luzes acesas e a piscar.
Não era possível identificar qual a origem da "avaria", pois as vibrações eram tão violentas que me faziam bater com o capacete na "canopy" do avião. Ainda tentei desligar os "Yaw dampers", mas logo vi que não era essa a origem do problema.

Como me encontrava em ângulo de picada de 60º, decidi ejectar-me, pois entretanto as vibrações passaram à sensação de espiral descontrolada e tão violenta que perdi a capacidade de fixar a visão. Só via umas manchas verdes e cinzentas, que deduzo serem o solo e o céu que se apresentava nublado com alto-estratos.

A ejecção deve ter acontecido com cerca de 450 nós, que estava perto do limite do cabo de disparo do pára-quedas de abertura (470 nós).
Ainda arranjei tempo para decidir ejectar-me com a alavanca superior, por permitir melhor posição e menos danos da coluna.

Após esse accionamento, só me recordo de uma explosão muito forte, e perdi os sentidos. No entanto, fiquei num estado de semiconsciência, e que permiti interrogar-me como isto me tinha acontecido; “vi” a minha vida a correr em “flashes” rapidíssimos.

Segundo os dados da cadeira a ejecção, até à abertura do pára-quedas decorre um período de 1 a 2 segundos. Eu tive a sensação de terem passado mais de 5 minutos…

Acordei muito lentamente, e um sentido de cada vez, ainda com o pára-quedas em desaceleração. O primeiro sentido a recuperar foi a visão com a explosão do avião, bastante perto. Nessa altura ainda não ouvia nem sentia.

 BA 12, 1973 - Cap Alberto Cruz

De repente, começo a ouvir um silvo que provinha do pára-quedas. Seguidamente, sinto uma corrente de ar enorme na cabeça e vejo meu corpo pendurado, mas sem me conseguir mexer.

De seguida, reparo que tenho sangue a cair-me nas luvas e nos braços.
Mais tarde é que vi que o sangue provinha de uma perfuração do lábio inferior por embate do meu estimado Breitling, que ainda mantenho.
Aí, apercebi-me que tinha perdido o capacete, que estava com o francalete bem justo, assim como a máscara e a viseira colocadas. Quem quiser, que experimente retirar o capacete da cabeça nestas circunstâncias. Nós tentamos essa experiência e ninguém conseguiu!

A cadeira naquela época ainda era a primeira versão da Martin Baker, que tinha uma aceleração de cerca de 39/45 G's no disparo da cadeira. Logo aí sofri a primeira compressão da coluna. Seguidamente, a velocidade a que o pára-quedas abriu foi tal, que senti um grande esticão.
Após um grande formigueiro em todo o corpo, recuperei os movimentos. O tempo de queda foi de cerca de 15 a 20 segundos, mas naquelas condições é difícil medir o tempo. No entanto, ainda me permitiu desfrutar do maravilhoso silêncio do voo de pára-quedas. A chegada ao solo não foi directa; fiquei pendurado numa árvore a cerca de 5 metros do solo. Fui deixando o pára-quedas deslizar até que a cerca de 2 metros ele se desprendeu e caí desamparado no solo; mais uma compressão na coluna.

As dores lombares e num joelho, bem com a perda de visão de um olho, foram as sequelas de que logo me apercebi. Mais tarde, confirmou-se que tinha ficado mais baixo 2cm e que tinha fractura ligeira da vértebra D5, lesão no joelho com derrame do líquido sinovial e lesão traumática no olho esquerdo durante a ejecção, possivelmente pelo “arrancamento” do capacete.

Ainda me consegui deslocar para uma clareira, com a intenção de me sinalizar. No entanto, dos “very-light” que levava só restaram os que me tinham sido entregues pelo Cap. Pedroso de Almeida, quando fez o “desquite”. Bem-haja!

Quando comecei a pensar, apercebi-me que tinha o fato de voo do meu amigo Cap. Pinto Ferreira, ainda com o nome dele na “etiqueta” de identificação. A primeira coisa que fiz, foi enterra-la e disfarçar esse local com vegetação.
Começo a olhar para o ar, e vejo o meu chefe de parelha, o então Cor. Tir. Lemos Ferreira, Comandante da Zona Aérea Cabo Verde e Guiné a voar em círculos.
Pensei que me tivesse visto a aterrar, mas por eu já estar tão baixo, vim mais tarde a saber que apenas viu a explosão do avião, e por um segundo, o pára-quedas ser “engolido” pelas árvores.

Seguidamente, começo a ouvir vozes e alguns assobios, o que em África, devido ao silêncio que todos conhecem, tanto podiam estar perto como longe.
Imaginei que poderia ser “recolhido” pela população ou pelos guerrilheiros que tínhamos acabado de bombardear. Não iam de certeza levar-me um whisky com Perrier…

Comecei a criar um espaço onde poderia colocar o pára-quedas, para assinalar a minha posição, mas comecei a ter dores violentas nas costas; mesmo rolando no solo, de maneira a deitar o capim que tinha mais de dois metros de altura, não consegui espaço para estender o pára-quedas.
Entretanto, comecei a sair do estado de choque e comecei a “engendrar” a conversa que teria se fosse capturado. Estabeleci um plano, e fiquei a aguardar que me fossem recuperar. Ainda notei que o meu chefe de formação abandonou o local (deve ter aterrado “seco”), e apareceu outro Fiat a sobrevoar a zona, que mais tarde vim a saber ter sido o Ten. A. Matos. Pensei cá para mim: estou safo, estava perto da Base e ainda não eram 15:00 horas.

Passaram cerca de 40 minutos, que a mim me pareceram horas, e começo a ouvir o “santo” ruído de um Heli e em “stereo”; eram dois, mas um, eu nunca o vi.
Levantei-me com muito custo e preparei os “flares” para me sinalizar.
A clareira onde me encontrava estava rodeada de árvores, e apenas num pequeno ângulo, é que tinha visão horizontal.

Como os Helis não tinham informação precisa da minha posição andaram ainda uns tempos à procura, e eu que só tinha dois “flares”, resolvi accionar um, quando ouvi um Heli mais perto.
Passado um tempo, que não consigo calcular, vi pela primeira vez um Heli; quando ele passou pela abertura das árvores, disparei o “flare” que me restava mesmo apontando ao Heli, pois era a maneira mais certa de não o atingir…

Fui visto! O piloto do Heli tenta uma aproximação já na clareira, mas o capim, com 2 metros, teima em não baixar com o vórtice do rotor principal. Nesta altura, em que o piloto tenta baixar o máximo possível, eu noto que o rotor de cauda se aproxima perigosamente de uns troncos secos e grossos que emergiam do capim já “abatido”.

Entretanto, eu que já estava em pé novamente, mas com muita dificuldade, reparo que o Heli é um Heli-canhão. E agora? O Heli-canhão descolou de Bissalanca, voou, no máximo meia hora, deve estar com muito peso e eu embora magro, vou provocar “overload”. Ainda pensei que íamos lá ficar à espera de um Heli sem canhão.
Mais tarde, fiquei a saber que tinham descolado dois heli-canhão para me dar protecção e me localizar. Como a zona era muito problemática, tomaram a decisão de me recuperar mesmo com o canhão.

Como o Heli não conseguia aterrar, aproximou-se de mim e fui içado à mão, ficando com o estribo de entrada entre as pernas e agarrado à estrutura vertical onde fecham as portas.
Descolámos, mas passado pouco tempo, começo a escorregar, prevendo que me ia estatelar no solo. O mecânico, atirador do canhão, ao ver a “cena”, largou tudo e enquanto me agarrava pelo pescoço, ia gritando para o piloto aterrar o mais depressa possível, que eu estava a cair. O piloto quase que fez um “quick stop” e eu aterrei primeiro do que o Heli; saltei para dentro dele, batendo com a cabeça não sei onde, e tombei desmaiado sobre a caixa das munições do canhão.

Chegamos a Bissalanca, e eu, já acordado, noto que alguém estava à minha espera com um copo numa bandeja. Como sabiam que eu gostava, na altura, de me refrescar com água Perrier um dedo de whisky, tentei sair em pé da viatura que me transportou do Heli para o Grupo Operacional, armado em herói; claro está que se não me agarrassem rapidamente, lá ia mais outra queda.
Bebi o copo de um golo.

Já na enfermaria da Base, começo a sentir a cabeça à roda e um enjoo terrível. Pensei que me estava a acontecer alguma coisa pós-choque, mas não era mais do que a “doença” provocada pelo “refresco” que os malandros dos meus amigos adulteraram. O “refresco” da Perrier com um dedo de whisky era afinal whisky com um dedo de Perrier. Ainda hoje não sei quem foi o artista.

Fui para o Hospital Militar, regressei à enfermaria, e fui evacuado para a “Metrópole” no primeiro avião militar.

Regressei à Guiné nos primeiros dias de Fevereiro de 1974, e por coincidência (?), a primeira missão operacional teve lugar no mesmo local onde me tinha ejectado. Ao fazer o passe de metralhadoras, o dedo parecia que não queria accionar o gatilho; respeitei esta hesitação do dedo e não premi o gatilho.
Na missão seguinte, tudo se normalizou, após uma consciente reflexão sobre a lei das probabilidades…
A minha ejecção já foi na segunda comissão.

Eu era um dos dois únicos pilotos que tinham sido nomeados para uma segunda comissão, em Fiat, para a Guiné; o outro foi o então Ten. Cor. Vasquez, como Comandante do Grupo Operacional.
Apenas alguns dias após o 25 de Abril, convivemos com os guerrilheiros que combatíamos em 1969 nas antiaéreas, onde eu fui protagonista e tendo feito parte das missões mais complicadas, que incluíram uma tentativa (gorada) de, com a acção dos pára-quedistas, os “apanharmos à mão”.
O ataque às antiaéreas na zona do Quitafine a Sudoeste de Bissau, perto do rio Cacine e a fronteira com a Guiné-Conakri, eram missões que tínhamos que fazer para que os guerrilheiros não nos conquistassem esse território, pois as forças terrestres já lá não tinham acesso…

Foram conversas interessantíssimas, e pelas quais vim a saber que eles para não serem afastados pelas bombas que rebentavam dentro do "caracol" (local onde eram colocadas as antiaéreas), eram atados às armas. Normalmente usavam as ZPU-4 de 14,5mm ou as duplas de 12,7mm.
Nessa época ainda não tinham chegado à Guiné os Grupos de mísseis.
No entanto, em 1972 (?) já havia conhecimento de que estavam a ser treinadas as equipas dos mísseis na URSS.

Eu vim a saber disso, porque sendo adjunto do Comandante de Grupo, na segunda comissão, ao arrumar uns arquivos, encontrei documentação de 1972 (?) com informação detalhada dos EUA sobre os mísseis Strela, bem como um completo estudo do seu envelope de acção. Também referiam ter informações fidedignas que o aparecimento dos mísseis SAM-7 estaria para breve no Teatro de Operações da Guiné e só mais tarde em Moçambique.
Na Guiné, nessa altura, já ninguém era apanhado de surpresa…
Mas mesmo assim, e como o outro elemento da parelha sobrevoava a zona em altitude, não viu a saída do míssil, eu fiquei convencido que se tinha aberto o painel das metralhadoras do lado esquerdo, pois na inspecção antes do voo notei que já apresentava alguma folga.

Isto deu origem a uma consulta à Força Aérea Alemã, que informou que apenas tinham conhecimento de um caso desses, a baixa velocidade, e que isso foi fatal para o piloto. A grande velocidade, o avião destruía-se em voo, não dando a mínima hipótese ao piloto.
Mesmo assim, devido a essa dúvida, foram inspeccionados todos os Fiat's e descobriu-se que a maior parte apresentavam fadiga de material na fixação das metralhadoras. Isso obrigou à respectiva reparação em todos os aviões. A causa dessa fadiga e de algumas fracturas terá que ficar confidencial… por enquanto!

Mais tarde, e já após o 25 de Abril, chegou uma informação proveniente do PAIGC, de que o meu avião (5409) tinha sido abatido por um grupo residente nessa área, e que até encontraram o meu capacete. As razões porque fui “abatido” dentro do "envelope" do míssil terão também que ficar pela confidencialidade…
No entanto, continuo convencido que não fui abatido pelo Strela, mas que tive uma violenta falha estrutural. Mas como me pareceu que era mais conveniente, para os então “poderes constituídos”, tratar o acidente como “abate”, em vez de falha estrutural, eu fui-me calando…

Alberto Cruz
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18742: FAP (108): Memórias sobre "Alguns dos Falcões que passaram por Monte Real em 1964/65" (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18742: FAP (108): Memórias sobre "Alguns dos Falcões que passaram por Monte Real em 1964/65" (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2018:

Caro Carlos.
Daqui te envio mais uma relíquia para publicação.

Grande abraço,
Mário Santos

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Memórias sobre "Alguns dos Falcões que passaram por Monte Real em 1964/65" e muitos deles mais tarde também pela Guiné

Esta foto foi retirada de um blogue de um destes Aviadores, infelizmente já desaparecido.
Como Especialista em F-86 e Fiat G-91, na BA12 em Bissalanca e mais tarde na BA5, em Monte Real, cruzei-me pessoalmente com muitos deles. No resto fui ajudado na identificação pelo Major PilAv Alberto Roxo Cruz e pelo Coronel PilAv Vítor Silva.
Como é obvio nesta foto não cabem todos os "Falcões" até porque como todos nós, eles são de idades, incorporações e cursos diferenciados.
A intenção quando publicamos a foto no nosso Blogue foi apenas de uma singela homenagem a estes homens com quem tive a honra de servir a nossa Pátria.
Para mim, independentemente da habilidade de cada um deles a voar, conta mais o humanismo, o espírito de justiça e o avaliar sensato das situações a resolver e que tornaram alguns, verdadeiros exemplos a seguir.

De acordo com o Coronel Vítor Silva, 6 morreram a voar, e muitos outros também já não se encontram entre nós devido à lei da vida.
Que descansem em Paz!

Em pé, da esquerda para a direita:
1º Vitor Silva, 2º F. Fernandes, 3º Rui Balacó, 4º L. Quintanilha, 5º Moura Pinto, 6º Soares Moura 7º C. Araújo, 8º Firmino Neves, 9 º Menezes, 10º E. Guerra, 11º António Abrantes.

Em baixo, da esquerda para a direita:
1º Luís António, 2º Bispo, 3º Amílcar Barbosa, 4º Luís Tuna, 5º M. André, 6º Calhau, 7º Mónica, 8º José Nico, 9º Costa Joaquim.

 Vista aérea da BA 12 - Bissalanca - 1970

 BA 12 - Bissalanca - Guiné

Equipa de Fiat's G91, Guiné, 1968
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18711: FAP (107): O dia em que a Guerra na Guiné quase terminou… (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17303: FAP (101): Agora num expositor... Aventuras de um capacete... E não só... (Miguel Pessoa)



O Tenente Pilav Miguel Pessoa iria ser recuperado um dia depois de se ter ejectado do seu Fiat G-91 atingido por um míssil Strela


Com a devida vénia ao Blogue da Tabanca do Centro e ao nosso camarada Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref (ex-Tenente Pilav da BA 12, Guiné, 1972/74), reproduzimos o Poste 906 daquele Blogue:

AGORA NUM EXPOSITOR... AVENTURAS DE UM CAPACETE… 
E NÃO SÓ…

Miguel Pessoa

Há tempos foi publicado neste blogue um Poste (P866) da autoria do meu camarada Alberto Roxo da Cruz, em que ele relatava as peripécias que envolveram a sua ejecção e recuperação nas matas da Guiné. Dessa história - que naturalmente conhecia, pois eu também estava lá… - fixei uma frase ali escrita: “Aí, apercebi-me que tinha perdido o capacete, que estava com o francalete bem justo, assim como a máscara e a viseira colocadas. Quem quiser, que experimente retirar o capacete da cabeça, nestas circunstâncias. Nós tentámos essa experiência e ninguém conseguiu!”

A cena da perda do seu capacete na ejecção, essa desconhecia-a. Mas é em tudo igual ao que me tinha acontecido meses antes no Sul da Guiné, quando também tive que me apear dum Fiat G-91 em andamento… No meu caso não dá para relatar a minha descida em paraquedas pois não me lembro de nada entre o disparo da cadeira de ejecção e a recuperação da consciência uns minutos (?) depois da queda.

Esses pormenores já os relatei anteriormente no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" (podem ver aqui) .

Sobre o capacete, posso assegurar que também eu tinha a máscara de oxigénio colocada, o francalete devidamente ajustado e a viseira em baixo. Mesmo assim, o facto é que o capacete se foi embora durante a ejecção, o que mostra a brutalidade desta medida de emergência…

O que não contei então é que, mais tarde, em conversas tidas com o Gen. Paraquedista Norberto Bernardes (meu camarada e amigo desde os tempos da Academia Militar em 1965) me foram relatadas as peripécias da recuperação desse meu capacete, encontrado no mato pelo grupo que ele comandava (então como Capitão), inclusive com recurso a um ramo para ver se o IN o teria armadilhado…

Bom, como quem procura tem prioridade, no fim desse dia o meu amigo Bernardes estava na posse do meu capacete… e do meu paraquedas, os dois em razoável estado de conservação.

Magnânimo, o Norberto Bernardes propôs-me decidir qual a peça que eu gostaria de recuperar, ficando ele com a outra. Optei por ficar com o paraquedas, que achava ser uma boa recordação; afinal, iria ter um capacete novo quando voltasse a voar. E assim se fez: Eu guardei o paraquedas e o Norberto Bernardes levou o capacete para a sua casa.

Passados uns bons anos, parece que tivemos ambos um rebate de consciência – Afinal, lá em casa as peças não tinham grande préstimo, seria mais interessante se estivessem expostas num local em que pudessem ser apreciadas por outras pessoas.

Foi assim que em determinada altura o Norberto Bernardes me informou que tinha oferecido o meu capacete para ser exposto no Museu da Base Escola de Tropas Paraquedistas, em Tancos.


Achei a ideia interessante e resolvi oferecer o meu paraquedas ao Museu do Ar, da Força Aérea, oferta essa que acabou por não se concretizar por “falta de espaço para exposição do material” (palavras do responsável, que me escuso de comentar…).

Desde há muitos anos, principalmente desde a data da minha recuperação, os Paraquedistas têm sido uma família para mim, com quem gosto de me dar e que sempre me recebem bem.

Foi por isso que em 2006 naturalmente resolvi oferecer o meu paraquedas ao Museu da Base Escola de Tropas Paraquedistas, onde hoje repousa na companhia do meu capacete, após uma longa separação de 33 anos, iniciada no longínquo ano de 1973…


Com um abraço especial ao Norberto Bernardes, um camarada por quem tenho grande amizade e consideração, lembrando também com saudade outro camarada que foi essencial na minha recuperação, o Cap. João Cordeiro, falecido num trágico acidente num salto de paraquedas, poucos meses mais tarde.

Miguel Pessoa
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17183: FAP (100): Um DO no charco do Como, história inserta no livro "Nos, Enfermeiras Paraquedistas" (Miguel Pessoa / Giselda Pessoa)

domingo, 13 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida (26)? A situação político-militar na Guiné. A. Marques Lopes.

Não entro nessa polémica... (II)



A. Marques Lopes (1)

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A situação na Guiné (alguns dados)


1962
Avanço das acções do PAIGC no terreno






Março – Foram presos em Bissau o Presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Barbosa, e outros elementos responsáveis do "Bureau Político de Bissau", tendo sido ainda apreendida propaganda e variada documentação, incluindo o planeamento de acções em pontos importantes de Bissau.

25 de Junho – A jangada de Bedanda apareceu destruída e correram notícias de cortes de estradas e fios telefónicos.

Julho – Neste mês e no seguinte foram desmanteladas várias redes do PAIGC espalhadas por toda a Província: Binar, Teixeira Pinto (Cachungo), Calequisse, Pelundo, Pecixe, Cacheu, S. Domingos, Suzana, Sedengal, Bafatá, Geba, Nova Lamego (Gabú), Contuboel, Sonaco, Empada, Darsalame, Fulacunda, Bolama e Arquipélago dos Bijagós. Além da captura de activistas e suspeitos, foi apreendida numerosa documentação, armas e munições.

Outubro – Referenciados os primeiros sobrevoos suspeitos, em especial de helicópteros. Elementos do PAIGC recebem instrução de guerra de guerrilha na Checoslováquia, no Gana, em Marrocos, no Mali e em Conakry, onde um grupo de instrutores argelinos (FLN) se encontrava desde Maio.

1963

23 de Janeiro – Início "oficial" da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC.

24 de Janeiro – Fulacunda foi flagelada por Arafan Mané.

Março – Captura por guerrilheiros do PAIGC, dos navios Mirandela e Arouca perto de Cacine, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material na Guiné-Conacri.

10 de Março – Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade do PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial.

9 de Abril – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.

Maio – François Mendy, presidente da Frente de Luta pela Independência da Guiné (FLING), preconiza uma conferência para o reagrupamento de todos os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas. Abatidos os dois primeiros aviões T6 Harvard, tendo morrido um piloto e sido feito prisioneiro o piloto do outro, o Sargento Lobato.

30 de Maio – Passagem das acções do PAIGC para norte do rio Geba.

Junho – Referenciadas actividades da guerrilha no Sector Leste, em especial na área de Xime.

Julho – Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné. Notícia do Le Monde sobre um contacto de Benjamim Pinto Bull, secretário-geral da União dos Naturais da Guiné (UNGP), com as autoridades portuguesas para a criação de um regime de autonomia interna. Abertura de frentes de combate a norte.

16 de Julho – Encontro de Salazar com Benjamim Pinto Bull, dirigente de uma das facções da FLING.

Agosto – Registam-se as primeiras acções violentas no Sector Oeste (Oio) e rebentou a primeira mina anticarro no Sector Sul (S. João).

23 de Agosto – Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul.

16 de Setembro – Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU.

3 de Outubro – Posse em Bissau, do novo secretário-geral da província da Guiné, James Pinto Bull.

1964
Avanço das acções do PAIGC no terreno



14 de Janeiro – Início da operação Tridente na Ilha do Como. O estratego militar chinês Sun Tzu terá dito (cito de memória) que uma táctica com ausência de estratégia é apenas barulho antes da derrota. Acho que foi isso, a Operação Tridente. Com toda a admiração e respeito por todos os que nela participaram, nomeadamente os camaradas do blogueforanada. Não são eles que estão em causa. A Operação Tridente teve como objectivo a ocupação das ilhas do Como, Caiar e Catunco, que estavam controladas pelo PAIGC desde 1963, e desenrolou-se em três fases: uma, a partir de 15 de Janeiro de 1964, com o desembarque sob a protecção dos T6 (um foi atingido) e da artilharia de Catió; outra, de 17 a 24 de Janeiro, consistiu no patrulhamento das ilhas; e na terceira fase, de 24 de Janeiro a 24 de Março, os esforços foram concentrados na ilha de Como, onde houve vários combates (um, em Uncomené e Cachil, durou 10 horas, tendo os guerrilheiros sofrido 40 baixas).

Em números foi isto:

Dias de operação...................................71
Mortos portugueses................................. 9
Feridos portugueses............................... 47
Militares Portugueses evacuados por doença... 193 (132 só de uma companhia)
Guerrilheiros mortos..............................76
Guerrilheiros feridos..............................15
Prisioneiros............................................. 9

Munições gastas:
7,62mm................................124 000
Granadas de artilharia 8,8..............1 200
Granadas de morteiro 81 mm.......... 550
Intendência:
Rações colectivas de combate..... 8 900
Rações individuais de combate.... 4 000
Vinho............................................ 22 900 Litros
Cerveja......................................... 15 500 Unidades
Tabaco.......................................... 10 100 Maços

Meios navais:
1 Fragata
4 Lanchas de fiscalização
4 Lanchas de desembarque pequenas (LDP)
2 Lanchas de desembarque médias (LDM)

Meios aéreos:
Missões tácticas.................... 851
Saídas por tipo de aeronave
F-86...................................73
T-6.............................….....141
DO-27.....................…........180
Auster...................................46
Helicóptero.........................323
P2V5....................................16
C-47 (Dakota).........................2
Total das saídas.................781
Horas de voo...................1 105
Pessoal transportado.......1 477
Pessoal evacuado..............134
Munições de avião
Bombas...............326
Foguetes.............719
Aviões atingidos..........6
Aviões abatidos...........1

Mas, como disse o mesmo Sun Tzu, a conquista do terreno raramente é definitiva e, menos ainda, decisiva. E, de facto, os guerrilheiros voltaram ao Como logo após aqueles dias de ocupação. E mais: foram ocupando progressivamente o Cantanhez e o Quitafine, cercando os aquartelamento de Catió e Bedanda.

Fevereiro – Na Guiné a FLING, dirigida por François Mendy e a UNGT dirigida por Pinto Bull, tentam a aproximação embora alguns elementos prefiram o entendimento com Amílcar Cabral.

13 de Fevereiro – Inicio do I Congresso do PAIGC, realizado em Cassacá no Sul da Guiné. Neste Congresso foi feita a separação entre poderes civis e militares, definindo o conceito de território nacional e criados os comandos militares inter-regionais.

Abril – Uma força tentou chegar a Cassacá, precedida de trinta minutos de bombardeamentos dos obuses de Catió, das bombas de um PV25 e de dois F-86. Tentou entrar na mata do Cachil com o apoio de dois T-6. Mas encontrou a guerrilha bem instalada, sofre uma dezena de feridos e foi obrigada a recuar. Utilização, pelo PAIGC, da mina A/P POMZ-2 e do Morteiro 82.

Maio – O PAIGC procura criar condições favoráveis ao seu reconhecimento pela OUA como único partido nacionalista da Guiné através de uma intensa actividade diplomática e de propaganda.

8 de Maio – O Brigadeiro Arnaldo Schulz é noeado governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

Julho – Manuel Lopes da Silva, secretário-geral da FLING na Guiné. O PAIGC utiliza a metralhadora pesada Bren (apreendida em 1963) e a metralhadora Borsig.

Setembro – O PAIGC utiliza o seguinte armamento: metralhadora 7.62 Guryumov m/944 com reparo, carabina Mosin-Nagant, pistola-metralhadora PPSH, espingarda Mauser 7.9, pistola-metralhadora Thompson 11.4 e minas A/C TM 46.

Outubro – O PAIGC e a FLING, de Henry Labery e Lopes da Silva, efectuam contactos com vista à aproximação.

Novembro – Estabelecimento de contactos entre as autoridades portuguesas, tanto de Lisboa como de Bissau, com a FLNG (Front de Libération National Guinéen), oposição a Sekou Turé.

28 de Novembro – Um Unimog com 10 elementos de um Gr Cmds, accionou uma mina A/C na estrada de Madina do Boé para Contabane. Do rebentamento e do incêndio que se seguiu morreram todos os elementos que seguiam na viatura. No mesmo dia, não muito longe dali, em Guileje, um numeroso grupo da guerrilha ataca violentamente o aquartelamento e a povoação, causando mortos e feridos entre a população e militares e destruindo as instalações.

Dezembro – Início da constituição das milícias na Guiné. O PAIGC utiliza o seguinte armamento: metralhadora ligeira Degtyarev, espingarda automática Kalashnikov 7.62, espingarda automática Simonov, morteiro 60 e pistola Ceska. O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas refere que desde o início da guerra, de 1961 até Dezembro de 1964, o Exército Português sofreu 433 baixas mortais em Angola, 113 na Guiné e 3 em Moçambique.

1965

Avanço das acções do PAIGC no terreno



A população de Cutia, organizada em auto-defesa e reforçada com alguns militares metropolitanos, repeliu um ataque da guerrilha, que chegou a introduzir elementos dentro da povoação. Na precipitação da fuga deixaram para trás 5 mortos dentro do arame farpado, 1 LGF e munições. Chegam informações de que as tabancas de Soncocemba e Cambajú estão a ser flageladas.

Algumas acções levadas a efeito pelas tropas portuguesas: a norte de Piche, um golpe de mão a um acampamento da guerrilha causa várias baixas e apreende munições, entre as quais várias granadas de LGF. Na exploração de uma notícia é lançado um golpe de mão sobre uma base da guerrilha na região do Enxalé (oeste de Bambadinca), que resulta na apreensão de 3 PM, 13 espingardas, 15 GM, munições e documentos. Em Canquelifá, a guerrilha perde dois homens e respectivo armamento e em Cufar as tropas portuguesas referem ter sofrido a primeira baixa provocada por fogo de morteiro. Nesta mesma zona, um GrCmds apreende 4 espingardas semi-automáticas m/52,1 (as primeiras deste tipo capturadas), 1 Mauser, munições e equipamento.

Panfletos em Cabo Verde apelam à revolta da população contra a presença dos portugueses. Fradique Castro, Presidente do "Movimento de Libertação para as Ilhas de Cabo Verde" (partido que diz existir há dois anos, mas só agora dá sinais públicos da existência), em conferência de imprensa em Dakar, declarou a intenção de fazer a guerra contra os portugueses em Cabo Verde com o objectivo de alcançar a independência. Senghor recebeu uma delegação da FLING, chefiada por Jonas Mário Fernandes, o qual após a audiência reclamou ter garantias do Presidente Senegalês na continuação da ajuda ao seu partido. Uma delegação da OUA, chefiada por um ministro tanzaniano, conferenciou em Dakar com dirigentes da FLING. Estes apresentaram um relatório dos "combates do partido travados em todas as frentes (militares e diplomáticas) para a conquista da Independência da Guiné-Bissau". Amílcar Cabral anuncia, em Argel, estar para breve a extensão da luta armada a Cabo Verde, que considera fazer parte do território da Guiné, e o Conselho de Ministros da OUA reunido em Nairobi decidiu reconhecer o PAIGC como o único movimento de libertação da Guiné e que a FLING estava definitivamente riscada da lista dos movimentos nacionalistas a ajudar.

Janeiro – O SIPFA (Serviço de Informação Pública das Forças Armadas Portuguesas) refere que, enquanto em Dezembro do ano anterior a actividade da guerrilha se manteve reduzida em todo o território, neste mês de Janeiro se tinha verificado a intensificação das suas acções, nomeadamente na zona à volta de Bissorã e no NE, especialmente ao longo do itinerário Buruntuma, Piche e Canquelifá. As povoações de Guidage e Cutia (aqui por um grupo estimado em cerca de 150 elementos fardados de caqui) são atacadas com morteiros e LGF. No sul é Cufar que fica debaixo do fogo de LGF e morteiro. O SIPFA informa que nos meses de Dezembro do ano passado e Janeiro deste ano as tropas portuguesas sofreram 15 mortos em combate.

7 de Janeiro – Primeira emissão de uma emissora de rádio do PAIGC. A FLING, distribuiu em Dakar um comunicado, largamente difundido pela "Tass", "Reuters" e outras agências, em que diz ter sido destruído o aeródromo de Barro, depois de três noites de violentos combates, tendo abatido ainda nestas acções 27 militares portugueses.

23 de Março – O diário francês Le Monde relata uma conferência de imprensa, dada por Amílcar Cabral, em que este dirigente se refere aos sucessos do PAIGC, como foi exemplo, diz, a batalha do Como, onde, segundo as suas palavras, a guerrilha causou mais de 600 mortos ao Exército Português. Para contrabalançar esta afirmação, o EME (Português) declara que em dois anos de incidentes na Província da Guiné, morreram em combate 136 militares.

Abril – Entrevista de Amílcar Cabral ao Le Monde, confirmando que pretende preservar as oportunidades de uma futura colaboração com o Estado Português não colonialista, não escondendo as dificuldades da luta na Guiné. A sul de Cuntima, um contacto entre a tropa e a guerrilha termina com 11 mortos destes, segundo escreveu no relatório da missão o Cmdt da unidade portuguesa. Na mesma zona, uma pequena coluna de guerrilheiros caiu numa emboscada, deixando no terreno 4 mortos e duas espingardas de origem soviética. A norte do Olossato, o Boletim nº 5 do EME relata que as tropas levaram a efeito um golpe de mão sobre um acampamento do PAIGC, capturando 6 minas A/P, 1 mina A/C, 1 ML Borsig, 3 PM Thompson, 1 PM, 2 Mausers, 5 P, 15 carregadores de PM, 15 GM, munições em quantidade e documentação. Em Buba, um grupo do PAIGC causou 3 mortos e 11 feridos entre as tropas portuguesas (flageladas com 22 morteiradas) e deixou no campo da batalha 5 mortos.

Há relatos de raptos, roubos, violações na área a oeste de Barro, admitindo-se em Bissau que tenham sido realizadas por pessoal da FLING. Canjambari, um GrCmds no decurso de uma emboscada capturou 3 espingardas, um cunhete de munições 7,62 e várias GM. Outro GrCmds, na zona de Tite assaltou um acampamento e apreendeu 5 Mausers, 3 Mosin Nagant, 1 PM e 8 GM. Flagelação com rockets e morteiros por um grupo estimado em 100 elementos do PAIGC (relatório do Cmdt) a Bissorã, sem consequências. Na mesma zona, as tropas retaliam, atacando a base de Biambi (Biambe?). Com base no relatório, lê-se: "foram detectados, a cerca de 200 metros da base, cerca de 100 elementos INs fardados e instalados em abrigos. Como os bandoleiros dispusessem de armamento em quantidade (morteiros 82 e 60, LGF, metralhadoras e espingardas) travou-se rijo e demorado combate ao fim do qual o IN, que opôs forte resistência, foi desalojado das suas posições e posto em fuga. As NT lançaram-se na perseguição e fizeram 1 prisioneiro (...) entre o material capturado, destacam-se 3 espingardas, 3 pistolas, 2 canos de ML, um cunhete metálico com fitas carregadas para ML, 1 cunhete de GM e mais 24 GM, carregadores de vários tipos...e uma bandeira do PAIGC". O acampamento destruído era constituído por 30 barracas, refeitório, escola e enfermaria com o respectivo material e mobiliário. No decorrer da acção as tropas atacantes sofreram 3 feridos.

Relativamente perto de Bissorã, uma base do PAIG foi atacada de surpresa pelas tropas que recolheram uma apreciável quantidade de material: 2 ML Bren, 7 PM Thompson, 1 Esp Aut, 1 Mauser, 3 Pistolas Seska, minas A/C e A/P, etc. Continuava acesa a luta por Canjambari, uma pequena povoação na margem direita do rio com o mesmo nome. Cerca de 100 guerrilheiros, bem armados, fardados e guarnecidos com capacetes foram emboscados por tropa do BCav 490. Embora surpreendidos reagiram fortemente, tendo o confronto durado cerca de meia-hora. Quando a tropa se preparava para recolher o material abandonado, outro grupo de guerrilheiros, instalado na margem esquerda, varreu a zona com morteiradas e rajadas de armas automáticas, obrigando a tropa a desistir e a abandonar o local com 3 feridos graves. Estas unidades militares ocuparam posteriormente a povoação, ocupação esta que durante muito tempo passou a ser diariamente assinalada, mais que uma vez por dia, com flagelações de morteiro e LGF. Numa dessas flagelações, o edifício do comando e uma viatura foram pelos ares, atingidos em cheio por granadas de morteiro.

Enxalé, a W de Bambadinca, 6 guerrilheiros aprisionados; Bigene e Barro, confrontos quase diários, com a retirada dos atacantes para o Senegal; mais 20 guerrilheiros aprisionados na zona do Enxalé, devido a informações obtidas junto dos capturados anteriormente; área de Cacine, junto à fronteira leste, montagem de emboscadas sucessivas causam baixas nos grupos da guerrilha que tentavam penetrar no território; estrada Barro-Bigene, uma mina conjugada com uma emboscada causa 4 mortos e 14 feridos numa coluna militar. Nos meses de Fevereiro e Março, as tropas portuguesas somavam mais 20 mortos em combate.

14 de Abril – Um domingo cheio de sol em Farim. Granadas de morteiro 82 lançadas da outra margem do rio Cacheu, explodem junto às instalações militares do BCav 490, causando 1 ferido.

Maio – Ataque do PAIGC ao aquartelamento de Beli, durante cerca de três horas, com utilização de morteiros, lança-granadas-foguete e metralhadoras. Acção das forças portuguesas na região de Morés, Guiné, com captura de diverso material de guerra, incluindo metralhadoras Borsig, Bren e M52, minas A/C TM-46, granadas-foguete, granadas de mão, etc. Captura pelas tropas portuguesas em Morés (Oio) de metralhadoras Borsig, Bren e M 52, minas A/C e granadas foguete.

7 de Maio – No decorrer de um golpe de mão a um acampamento do PAIGC situado na zona de Cameconde (Sul), chefiado pelo lendário Pansau Na Isna, um GrCmds constituído por 20 elementos sofreu um morto e nove feridos. Os restantes carregaram com o morto e os feridos até Cameconde trazendo ainda o material que capturaram: 8 armas, cunhetes de munições, granadas, petardos, equipamentos, minas, fardas, e documentos com elementos importantes da Ordem de Batalha do PAIGC.

Junho – Ataque do PAIGC a Canjambari, desenvolvido em duas fases, com utilização de grande poder de fogo de morteiros, lança-granadas-foguete e armas automáticas. Acção das forças portuguesas na região de Tite, Guiné, com destruição de um acampamento e captura de diverso material de guerra, incluindo espingardas Mauser e Mosin-Nagant., pistola-metralhadora M-25, metralhadora Goryunov, etc.

Agosto – Visita de uma missão militar da OUA às regiões controladas pelo PAIGC
15 de Setembro – Arnaldo Schulz, de visita a Lisboa, afirma que "a Guiné jamais deixará de ser portuguesa".
Outubro – Região de Fulacunda, sector de Tite: uma emboscada montada por um grupo da guerrilha desarticula uma companhia do Exército Português. Seis homens ficam isolados, enquanto o grosso da companhia retira desordenadamente rumo ao aquartelamento, onde vão chegando em pequenos grupos. Os seis foram esgotando as munições, batiam-se pela sobrevivência, esperançados numa ajuda que nunca chegou. No segundo dia, um foi abatido. A guerrilha, em vantagem, não desarmava. Ao terceiro dia caiu o segundo. No último dia em que tudo se consumou, um dos sobreviventes deu um tiro na cabeça, enquanto outro tentou passar o rio para nunca mais ser visto. O alferes foi o último a ser abatido e o último dos seis entregou a arma. Transportado para Conakry, em frente de Amílcar Cabral, o Soldado Lauro negou-se a ler a declaração que lhe foi apresentada para ler na Rádio Libertação, repudiando a guerra e convidando a tropa a desertar (em "Rumo a Fulacunda", livro do Ten Cor Rui A. Ferreira. Nota do editor).

1 de Novembro – Cerca das 20 horas, foi lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim (Sector então a cargo do BArt 733. A explosão terá provocado 63 mortos e um número indeterminado de feridos, na sua maioria mulheres e crianças. Na sequência, a PIDE deteve meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir alguns militares. Para o fazer teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.

Dezembro – Inaugurado em Dezembro o Hospital de Boké com a designação de Dispensário Sanitário do Partido, passando no início do ano seguinte a ser designado por Hospital Militar de Boké, destinando-se ao tratamento dos feridos de guerra, especialmente dos combatentes da Inter-Região Sul. Dispõe de uma enfermaria dividida em duas secções (homens e mulheres), uma sala de operações, um gabinete para consultas e tratamentos, uma secção de radiologia e uma farmácia. O hospital está apetrechado com moderno material cirúrgico e de Raio X.

1 de Dezembro – Um GrCmds acercou-se da base de Sano (Barro/Bigene), tendo permanecido no local cerca de uma hora. Com a base/aldeamento à vista, bem dentro do território do Senegal, foi decidido não atacar.

31 de Dezembro – Obuses de Cufar flagelam Cabolol, Cobumba e Caboxanque. Um P2V5 larga bombas sobre a mata do Cantanhez. As antiaéreas do PAIGC rasgam o céu com balas tracejantes.

1966

Janeiro – Começou a ser publicado o "Blufo", órgão dos pioneiros do PAIGC, assumindo-se como "a voz da Juventude que se lançou corajosamente na luta de libertação nacional do nosso povo, na Guiné e em Cabo Verde".
Chega a Conakry o primeiro contingente cubano, formado por instrutores, artilheiros e médicos para participarem na luta contra o Exército Português.

3 de Janeiro – Lançada uma ofensiva sobre o Cantanhez. Dois destacamentos de Fuzileiros, uma companhia de Páras e quatro companhias do Exército combatem a guerrilha na região de Darsalame e Cafal onde se encontra uma importante base do PAIGC na zona Sul.

Fevereiro – Armamento utilizado pelo PAIGC: espingarda Lee Enfield Mark III 7.7, espingarda Mauser 7.9 m/1948, espingarda automática Browning m/1918, espingarda Mas m/1936 (França), mina A/P PMA-1, pistola-metralhadora Beretta (Itália), pistola-metralhadora Thompson (EUA), LG P-27 (Checa), mina A/C Mark 7 (Reino Unido).

6 de Março – Operação Hermínia. Tropas comandos efectuam na zona de Jabadá a 1ª heliportagem de assalto a uma base da guerrilha. Saldou-se por um elevado número de baixas entre a guerrilha, a população que albergava e as tropas assaltantes.

21 de Março – Celebração de um protocolo entre o Senegal e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as respectivas autoridades.

28 de Março – Entre Faquina Fula e Faquina Mandinga, zona de Cuntima. 30 Elementos de um Gr Cmds helitransportados para a fronteira para uma acção de nomadização que se previa durar quarenta e oito horas, depararam com um grupo da guerrilha a limpar as armas dentro do acampamento. Do ataque resultou a captura de 2 ML Degtyarev, 2 Simonovs, 1 PM Thompson, 1 PM Shpagim, 1 PM Beretta, 1 esp. Mauser e granadas de mão e de RPG.

28 de Abril – Os pára-quedistas montaram uma emboscada no "corredor de Guiledje" (Operação Grifo). Às dez da manhã houve o contacto com uma coluna de guerrilheiros. Diz o relatório da operação (citado no livro “Guerra Colonial”, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) que a reacção do inimigo foi incrivelmente rápida e com grande potencial de fogo em tiro rasante. Um dos três guerrilheiros sobreviventes da zona de morte abriu fogo, atingindo o capitão Tinoco de Faria. Alguns segundos depois, foram abatidos três guerrilheiros que tentavam fugir, mas os restantes tinham-se instalado junto à mata ocupada peias forças portuguesas, desencadeando violento ataque com metralhadoras pesadas. Numa pausa, o pelotão tentou transportar o ferido para local onde fosse possível a sua evacuação, pois inspirava sérios cuidados. O inimigo mudou de táctica, seguindo as tropas e flagelando-as à distância. Ao chegar à margem do rio Tenhege, o pelotão sofreu novo ataque de elementos emboscados no interior da mata. Entretanto, o estado de saúde do capitão agravou-se de forma irrecuperável, tendo morrido cerca do meio-dia.

29 de Abril – Cabral reuniu-se com os seis primeiros cubanos que chegaram à Guiné-Bissau, três deles médicos, Labarrere, Rómulo e Domingo, e 3 artilheiros, Aldo, Verdecia e Salabarria, conhecido por Horacio "o homenzarrão". Participam em 1 de Maio no primeiro combate.

28 de Junho – Um GrCmds capturou 4 pessoas nas imediações da base de Uália, na zona do Oio. Do assalto resultou a destruição de 10 casas de mato ocupadas pela guerrilha e de 25 casas que serviam de abrigo à população sob o controle do PAIGC. No decorrer da acção foi encontrada a enfermaria da zona e capturada a enfermeira responsável pela base, que, por documentos encontrados, se veio a saber ser a mulher de Pedro Ramos, na altura responsável pela instalação de meios rádio do PAIGC.

10 de Julho – Em Jumbembem, sector de Farim, o Capitão Rui António Nunes Romero, do Exército Português, suicida-se.

Outubro - O comando português tem notícia dos primeiros cubanos na Guiné.

20 de Outubro – Criação do Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas nº 12 (BCP 12) na Guiné.

Dezembro – Confirmação pelas autoridades portuguesas, da primeira utilização de meios rádio pelo PAIGC. 28 de Dezembro – Capturado ao PAIGC um emissor-receptor P104M (soviético)

1967

Avanço das acções do PAIGC no terreno





Fevereiro – Operação "Tauro", zona norte, fuzileiros ao desembarcarem em lancha na margem sul do rio Cacheu são recebidos à bazucada e obrigados a recuar. Para trás ficaram quatro homens atolados no lodo. Recuperados à 2ª tentativa de desembarque, juntaram-se aos camaradas no assalto à base de Matar onde apreenderam armamento.

10 de Fevereiro – Utilização, pela primeira vez, por parte do PAIGC, de cocktails Molotov em operações.

22 de Fevereiro – Fiat G-91 da FAP, pilotado pelo major Santos Moreira, destruído por explosão prematura de uma bomba de 110 lbs.

Março – Na ilha de Caiar, arquipélago do Komo, capturados 20 guerrilheiros.

Abril – Ataque do PAIGC ao quartel de Encheia com grande potencial de fogo, causando cinco mortos e oito feridos às tropas portuguesas. Artigo do jornal "Horoya", publicado na Guiné-Conacri sobre "Uma consciência politica sólida na base de uma economia florescente na zona libertada" onde são postas em destaque as actividades económicas nas zonas do PAIGC.

6 de Abril – No rio Armada, afluente do rio Cacheu, dá-se o primeiro rebentamento de uma mina aquática numa LDM, sem consequências de maior.

Julho – Contactos da PIDE com elementos da oposição a Sekou Turé.

2 de Julho – durante o ataque a um aquartelamento morre em combate Félix Barriento Laporte, o primeiro cubano a ser morto na guerra da Guiné.

3 de Julho – No decorrer de um jogo de andebol entre o ASA e a UDIB, rebentaram violentos incidentes entre páras e fuzos (cerca de 400 assistentes), os primeiros apoiantes do ASA e a UDIB apoiada pelos fuzos. Estes não satisfeitos com o desenrolar dos combates a murro recorreram às G-3 e às granadas de mão. Dois páras morreram nos incidentes.

17 de Julho – Primeira emissão da Rádio Libertação, emissora do PAIGC em Conacri, com programas em português e crioulo.

28 de Julho – Nota Circular do EME: "Tem vindo a verificar-se que os diversos partidos emancipalistas desenvolvem as mais variadas manobras no sentido de passarem a ser considerados como beligerantes, oficializando assim a luta que se trava no Ultramar. Um dos processos mais frequentemente usados tem sido o de solicitar para os terroristas capturados pelas nossas tropas as regalias que a Convenção de Genebra concede aos prisioneiros de guerra. Por outro lado, e com o mesmo objectivo, esses partidos começaram a usar para com os militares portugueses em seu poder a designação de prisioneiros de guerra, ao mesmo tempo que os seus órgãos de propaganda afirmam que lhes serão concedidas as garantias da mesma Convenção, como contrapartida. O ministro da Defesa Nacional, por despacho de 28 Junho de 67, determinou que passassem apenas a ser usadas as designações que se seguem quer para elementos terroristas, quer para militares nacionais:

a. Terroristas caídos em poder das nossas tropas:
1) Acção — captura
2) Situação — sob prisão
3) Designação — preso

b. Militares portugueses em poder de elementos terroristas:
1) Acção — retenção
2) Situação — situação de retido
3) Designação individual — retido pelo inimigo».

Assinava o general Sá Viana Rebelo, vice-chefe do Estado-Maior do Exército. Curiosamente, esta circular era complementada com normas relativas ao "Procedimento a tomar no caso de ser retido", onde se afirmava no ponto d):

"Quando interrogado, o militar português apenas deve fornecer os dados a que é obrigado pela Convenção de Genebra: nome completo, posto, número e data do nascimento". O primeiro militar português feito prisioneiro foi o primeiro-sargento piloto António Lourenço de Sousa Lobato, cujo avião caiu na Guiné-Bissau e que foi considerado na situação de "retido" desde 22 de Maio de 1963.
Até finais de 1970 estavam “retidos” pelo PAIGC:

Oficiais......................................... 1 (alferes)
Sargentos.....................................2 (um sargento-piloto da Força Aérea, o Lobato, e um furriel miliciano, o João Neto Vaz, da CART1690)
Cabos.......................................... 4 (dois eram o José da Silva Morais e o José Manuel Moreira Duarte, da CART1690)
Soldados ................................... 15 (8 eram da CART1690)
Total............................................22

Estes militares estiveram presos nos quartéis de Alfa Yaya e de Kindia, devendo-se-lhes acrescentar um outro que foi colocado em Argel (Francisco Gomes da Silva, da CART1690). Um soldado prisioneiro morreu em Conakry, tendo a sua morte sido comunicada directamente à família por Carlos Correia, membro do Bureau Político do PAIGC, juntamente com uma fotografia do funeral (era o Luís dos Santos Marques, da CART1690).

21 de Agosto – Morte do capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães e do soldado António Domingos Ramos na estrada de Geba para Banjara por acção de uma mina anti-carro. Ficou ferido o alferes miliciano A Marques Lopes.

Setembro – Emissão da Rádio Libertação do PAIGC com uma exortação ao soldado português, incitando-o à resistência e à revolta. Inicio dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacri.

16 de Setembro – Em 16 de Setembro de 1967, na operação Jacaré, perto de Cheuel, na zona de Geba, 8 feridos (entre eles os alferes Alfredo Reis e Domingos Maçarico) no rebentamento de uma mina anti-carro.

Outubro – Na embaixada de Cuba na Guiné-Conakry, o bureau político do PAIGC, liderado por Amílcar e Aristides Pereira, decidiu, em memória de Guevara (morto na Bolívia), atacar todos os quartéis durante 15 dias, uma operação a que deu o nome de "O Che não morreu".

16 de Outubro – Na operação "Imparável", num ataque à base do PAIGC em Sinchã Jobel, morreu o soldado Agostinho Câmara.

Novembro – Nino Vieira, comandante do PAIGC na zona de Catió, acumula com o comando militar da zona leste (Madina do Boé).

Dezembro – Grande operação das forças portuguesas a norte de Bigene, com apreensão de variado material de guerra. Utilização pela primeira vez, de granadas de fumo, pelo PAIGC, na zona de Poindom, entre Xime e Bambadinca. Reunião do Bureau Politico do PAIGC, em que se decide reorganizar as FARP, donde é excluída a milícia popular, contando apenas com os grupos de guerrilha e o exército popular.

2 de Dezembro – Inauguração do campo militar de Ziguinchor, no Senegal, utilizado pelo PAIGC.

19 de Dezembro – Ataque à base do PAIGC em Sinchã Jobel, operação "Invisível", tendo morrido o alferes Fernando da Costa Fernandes e os soldados Vito da Silva Gonçalves e Armindo Correia Paulino e o 1.º cabo Sousa. Foi aprisionado pelo PAIGC, durante esta operação, o soldado Manuel Fragata Francisco.

22 de Dezembro – Um Destacamento de Fuzileiros partiu de Catió em helis rumo à base de Cansalá, Cantanhez, onde se julgava estar Nino Vieira. Perante fraca resistência, os fuzileiros capturaram cerca de duas toneladas de armamento (operação Eridanus).


1968
Avanço das acções do PAIGC no terreno


Janeiro – O ano começou no sul com o abandono do destacamento de Mejo, pertencente a Guilege, depois de destruído e armadilhado pelas tropas portuguesas.

13 de Janeiro – A norte, a "Lira", uma lancha de fiscalização grande, em missão de escolta à "Alfange" (lancha de desembarque grande que tinha acabado de transportar tropas de S. Vicente para Binta), foi atingida das margens, tendo a tripulação sofrido 1 morto e 8 feridos, alguns gravemente.

2 de Fevereiro – Visita de Américo Tomás a Cabo Verde e Guiné.

3 de Fevereiro – Um comunicado do PAIGC assinala a captura de militares portugueses: (…) "Na área de Quínara (Frente Sul), no dia 3 de Fevereiro, no decurso de um ataque a uma unidade colonialista que se instalara na tabanca de Bissássema, as nossas forças, comandadas pelos camaradas Fokna Na Santchu e Mamadu Mané, fizeram prisioneiros três militares dos quais um alferes (dava nota dos nomes, um deles era o alferes António Júlio Rosa), todos de uma companhia estacionada em Tite". Referia ainda: "Nesta acção foram ainda postos fora de combate 16 soldados colonialistas (nota do editor: este nº não consta de qualquer relatório militar). O restante da tropa inimiga fugiu para o campo fortificado de Tite, abandonando no terreno uma importante quantidade de material, entre os quais se contam 6 rádios de campanha de fabricação britânica. De acordo com as normas do Partido, estes novos prisioneiros portugueses receberão o tratamento humano que lhes é garantido pelas convenções internacionais (...)".

19 de Fevereiro – Ataque do PAIGC ao aeroporto de Bissau, comandado por André Gomes
Março – Luís Cabral secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, membro do Bureau Politico do PAIGC.

15 de Março – Entrega à Cruz Vermelha Senegalesa, pelo PAIGC, de três militares portugueses feitos prisioneiros (um deles foi o Manuel Fragata Francisco), com declarações de Amílcar Cabral sobre a disposição do PAIGC de parar o combate com a condição do reconhecimento do direito à independência da Guiné.

27 de Março – Apreensão de um avião da Guiné-Conacry, que aterrou em Bissau, vindo a ser proposta a sua troca por cinco prisioneiros portugueses em posse do PAIGC.

Abril – Ataque a uma coluna portuguesa por um grupo do PAIGC no itinerário Gadamael-Gandembel, por repetidas vezes, com metralhadoras pesadas, lança-granadas-foguete, morteiros, armas automáticas e rebentamento de fornilhos.

10 de Abril – Cerca da meia-noite, ataque do PAIGC ao quartel de Cantacunda, causando um morto e fazendo 11 prisioneiros. Os outros, nove, foram obrigados a abandonar o destacamento. O ataque foi conduzido pelo comandante Braima Bangura (fuzilado em 12 de Julho de 1986, juntamente com Paulo Correia e outros, por ordem de Nino Vieira, sob acusação de tentativa de golpe de Estado em 17 de Outubro de 1985) e teve a conivência do régulo Braima Candé e da população.

Maio – Flagelação de Gandembel, no sul da Guiné, pelo PAIGC, por várias vezes consecutivas, com canhões s/r, metralhadoras-pesadas, lança-granadas-foguete e morteiros.

2 de Maio – Nomeação de António de Spínola para os cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

20 de Maio – Posse do Brigadeiro António de Spínola.

8 de Junho – Directiva do Comando-Chefe da Guiné para a transferência da unidade estacionada em Madina do Boé.

18 de Junho – Aprisionamento de um sargento e sete soldados portugueses pelo PAIGC.

19 de Junho – Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre a defesa da Ilha de Bissau.

15 de Julho – Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre a remodelação do dispositivo.

24 de Julho – O destacamento de Banjara, no Oio, foi atacado por um bi-grupo reforçado, tendo morrido o soldado Jaime Maria Nunes Estêvão.

28 de Julho – Fiat G-91 da FAP, pilotado pelo ten cor Costa Gomes, atingido por fogo de antiaérea de .50 polegadas (12,7), disparado da fronteira da Guiné-Conakry.

Agosto – Primeira utilização pelo PAIGC, do morteiro de 120 mm, em Gandembel.

12 de Agosto – Ataque do PAIGC a Sare Ganá, tendo entrado na povoação, que se encontrava em autodefesa. Foi expulso com a chegada da tropa de Geba.

19 de Agosto – Mampatá, Aldeia Formosa, pelas 20 horas, segunda flagelação do dia: mais de uma centena de granadas de canhão sem recuo em pouco mais de 10 minutos.

23 de Agosto – Em Mampatá, uma coluna para Gandembel levanta 57 minas anti-pessoal e quatro fornilhos. No mesmo trajecto a mesma coluna sofre cinco feridos em emboscada.

27 de Agosto – Pára-quedistas entram num trilho na zona de Gandembel e esbarram com um acampamento da guerrilha. Apanhados de surpresa, sofrem cerca de duas dezenas de mortos e causam dois feridos aos páras. Flagelações de Aldeia Formosa, Gandembel, Guileje e Buba. São suspensas de Mampatá as colunas para Buba e Gandembel: a picada, as margens e algumas zonas da mata encontram-se semeadas de minas de todo o tipo. Incapacidade em reabastecer Gandembel e Ponte Balana, depois de na primeira tentativa as tropas estacionadas em Gandembel terem sofrido seis mortos e um desaparecido e na segunda ter rebentado uma anti-pessoal causando ferimentos graves a um militar.

Setembro – Flagelação de Gandembel por forças do PAIGC com centenas de rebentamentos, com destaque para a utilização de canhões sem recuo e morteiros de 120 e 82.

8 de Setembro – Cerca de 100 elementos do PAIGC atacam o destacamento de Sare Banda, na zona de Geba, durante uma hora e meia, causando a morte do alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto e do furriel Raul Canadas Ferreira e três feridos graves.

30 de Setembro – Directiva do Comando-Chefe da Guiné para o reordenamento de populações e sua organização em autodefesa.

Outubro – Spínola em documento oficial sobre o problema militar da Guiné, declara: "Não hesitamos em considerar como uma triste realidade a situação que hoje se vive na Guiné, situação que abrange o aspecto económico-social e o aspecto militar".Decisão do Governo do Senegal dificulta a permanência de elementos do PAIGC no seu território.

28 de Dezembro – Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre operações psicológicas e estabelecimento do slogan "Uma Guiné Melhor".
Spínola, após a sua chegada à Guiné, em Maio de 1968, procurou definir uma estratégia, a que ele julgou adequada: "O plano geral da luta não se projecta, como hoje já ninguém ignora, no campo exclusivo da missão das forças armadas, mas é indispensável que estas retomem a iniciativa das operações de modo a impor a sua vontade ao inimigo. (...) não é viável pensar em acabar, a curto prazo, com a guerra na Guiné, mas sim e apenas garantir o controlo efectivo de áreas fundamentais".

E em 1969 cria os comandos de agrupamento operacional (CAOP), correspondendo aos sectores, e os comandos operacionais (COP), correspondendo às zonas de acção dos batalhões, promovendo, assim, a alteração do dispositivo das forças. Estes comandos situavam-se em áreas críticas, tinham uma estrutura mais leve e flexível que os batalhões, sobretudo na área logística, e controlavam as unidades em quadrícula e as unidades de intervenção.

Criou também zonas de intervenção do comando-chefe nas áreas de forte implantação do PAIGC, para operações de curta duração e grande violência das forças especiais, apoiadas pela aviação e pela artilharia, e sob o seu comando directo. O objectivo era conseguir a destruição das forças inimigas, evidentemente, mas também queria demonstrar às populações a nossa superioridade militar e ganhá-las a nosso favor.

As operações especiais fora das fronteiras perspectivou-as para o Batalhão de Comandos. Assim, e com a criação de várias companhias de caçadores africanos, queria pôr em prática a sua ideia da africanização da guerra – os pró-Portugal contra os independentistas. Ao mesmo tempo economizava forças, perante a impossibilidade de receber reforços da metrópole.

Procurou isolar o teatro de operações, cortando a norte os corredores de reabastecimento dos guerrilheiros com as guarnições de Bigene, Barro e Guidage (corredores de Sambuiá, Lamel e Sitató) e controlando a sul os eixos de Guiledje e Madina, tentou subtrair as populações ao controlo do PAIGC incentivando os reordenamentos e procurando criar à guerrilha instabilidade nas zonas libertadas, atacando-a com aviação e forças especiais.

1969

Avanço das acções do PAIGC no terreno







Janeiro – Operação conjunta das forças portuguesas na zona de Bigene, a norte, com "assinaláveis resultados". Em Guileje, o PAIGC lança para dentro do perímetro do aquartelamento mais de duas centenas de granadas, causando dois mortos.

As autoridades militares em Bissau tomam conhecimento que a Guiné-Conakry havia recebido da URSS três vedetas-torpedeiras da classe "Komar" e o PAIGC quatro vedetas-torpedeiras da classe "P6". As primeiras, navios de 75 toneladas, estavam armadas com duas peças AA (antiaérea) de 25 mm e dois mísseis superfície-superfície; as segundas, navios de 66 toneladas, vinham armadas com duas peças AA de 25 rnm e dois tubos lança-torpedos. Umas e outras podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós.

23 de Janeiro – Em Aldeia Formosa foi lançada uma granada de mão para a messe dos sargentos, causando a morte de dois soldados e ferindo dez furriéis, alguns com gravidade. Nunca se soube quem foi o autor.

Fevereiro – Acção das forças portuguesas na região a leste de Bigene, com captura de um canhão S/R, um morteiro 82, metralhadoras pesadas e ligeiras, lança-granadas foguete, espingardas automáticas e de repetição, minas e munições.

Flagelação de Guilege com utilização de canhões S/R e morteiros, colocando cerca de 200 rebentamentos no interior do quartel e causando 2 mortos.

Plano de Paz de Léopold Senghor para a Guiné propõe a independência no quadro de uma comunidade luso-africana.

8 de Fevereiro – Evacuação de Madina do Boé pelas forças portuguesas aí estacionadas, durante a qual se registou um grave acidente na travessia do rio Corubal, com a morte de 47 militares.

9 de Fevereiro – Após a retirada da guarnição portuguesa, o PAIGC ocupa Madina do Boé, no Leste da Guiné.

Ataque do PAIGC ao quartel de Cambaju durante cerca de duas horas causa vários mortos e feridos; durante o ataque elementos da guerrilha entram no perímetro defensivo.

26 de Fevereiro – Ataque do PAIGC a duas lanchas no rio Buba, sendo a acção dirigida por Mário de Sousa Delgado e Mamadú Indjai.

2 de Março – Uma mina aquática é descoberta a tempo no Rio Cobade, sul, e destruída a tiro.

5 de Março – Dissolução da FLING, após uma reunião em Zinguinchor, Senegal, presidida por Pinto Bull (natural, depois da retirada de apoio da OUA em 1965; vê-se que não faz sentido que a FLING tivesse alguma influência aquando do reconhecimento da independência da Guiné-Bissau em 1974...). Curioso ter-se dado a dissolução numa altura em que se dava a intensificação dos contactos, iniciados ainda em 1964, entre as autoridades de Bissau e a FLNG da Guiné-Conakry. Spínola tinha a intenção de autorizar a FLNG a estabelecer bases de guerrilha no território da Guiné-Bissau, junto à fronteira, com o objectivo de criar instabilidade no interior da Guiné-Conakry e levar à destituição de Sekou Touré e à consequente instauração de um regime que proibisse as actividades militares do PAIGC dentro da Guiné-Conakry.

7 de Março – Início da Operação "Vulcano", no Sul da Guiné. Forças pára-quedistas tentaram assaltar posições de artilharia do PAIGC (antiaéreas ZPU-4, quádruplas, de calibre 14,5mm e cadência de 600 tiros por minuto e por cano). Os 7 aviões Fiat G-91 iniciaram o ataque com bombardeamentos e destruíram uma ZPU com uma bomba de 200 quilos. Parecia tudo a correr bem e seguem os helicópteros AL-III que despejam uma vaga das duas companhias de pára-quedistas destacadas para a acção. Mas foram batidos pelo fogo e descobriram que ainda havia 3 ZPU, tendo elas atingido um Fiat e uma DO-27, que tiveram de regressar à base. Retidos pelo fogo do PAIGC, os páras nada puderam evitar nem podiam progredir. A utilização de helicópteros era inviável naquelas circunstâncias, tornando difícil a recuperação dos pára-quedistas. O dia avançava e o próprio comandante escreveria mais tarde: "Torna-se urgente tomar uma decisão perante a eminência do desastre" (citado no livro “Guerra Colonial” de Aniceto Afonso e Matos Gomes). E as opções eram: assalto às posições mais fortes dos guerrilheiros, com grandes custos em baixas; manter os homens ali, ficando a pernoitar, e estando sujeitos a ataques nocturnos com morteiros e artilharia; ou retirar.

Foi esta última opção que foi tomada a meio da tarde. As forças portuguesas abandonaram o Quitafine sem sucesso. O PAIGC demonstrou, pela primeira vez, capacidade para se manter no terreno, numa defesa a todo o custo. E também tirou a lição de que necessitava de armas antiaéreas mais flexíveis, de fácil transporte e dissimulação. Vieram depois, em 1973, os SA-7 (Grail Strella).

Abril – Acção das forças portuguesas na região de Bula, Sector Oeste, Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC.

8 de Abril – Inicio de uma visita de Marcelo Caetano à Guiné, Angola e Moçambique.

10 de Abril – Um grupo de comandos, saídos de Buba em patrulhamento, depararam-se com um grupo da guerrilha, internaram-se na mata, deixaram que o bi-grupo se aproximasse e atacaram, provocando 11 mortos, apreendendo 21 armas e trazendo dois feridos ligeiros. Pedida a evacuação, regressam a Buba e caem num campo de minas, tendo rebentado uma bailarina que corta em dois um furriel, enquanto outra arranca um pé a um soldado.

15 de Abril – Implantação de uma mina aquática no rio Cobade, no Sector Sul, Guiné, por parte do PAIGC, accionada pelo batelão "Guadiana".

5 de Maio – Na zona de Nhala, uma coluna detecta três minas A/P. Abrigaram-se enquanto um militar se preparou para as levantar. Um dos militares, curioso, decidiu avançar um pouco. Calcou uma terceira que estava junto a um tronco de palmeira. A guerrilha emboscada no local, a assistir ao levantamento da mina, aproveitou a ocasião e abriu fogo. Evacuado o militar, a coluna prosseguiu o seu destino ao encontro de mais duas minas e uma com arame de tropeçar. Antes de atingido o destino ainda leram escritos da guerrilha, recomendando-lhe o regresso a Lisboa e que deixassem o povo da Guiné gerir o seu destino. No local da armadilha, a guerrilha desenhou um cemitério com terra e campas de mortos encimadas por um dístico: Branco vai para a tua terra. A tropa ainda ficou no local, entretida a levantar cerca de quatro dezenas de minas anti-pessoal.

27 de Maio – No rio Cobade, junto à cambança do Brandão, o batelão "Guadiana", carregado com bidões de gasolina, explodiu e incendiou-se ao colidir com uma mina aquática. Da explosão resultaram 5 mortos e 8 feridos entre os passageiros, além do posterior afundamento por incapacidade de recuperação. A partir deste incidente, passou a incluir-se uma patrulha avançada de botes para detecção visual de eventuais dispositivos flutuantes.

Junho – Deslocamento das populações da área de Piche para zonas mais seguras, incluindo a saída para o Senegal, em virtude dos últimos ataques do PAIGC.

Julho – Ataque da guerrilha a Quirafo, leste, durante três horas, com grande poder de fogo, de que resultou a destruição completa do aquartelamento.

Início da preparação da Operação "Mar Verde", destinada a derrubar o regime de Sekou Touré da Guiné-Conacri.

Agosto – Accionamento de uma mina anti-carro por uma coluna nas proximidades de Fulacunda, Sector Sul, Guiné, de que resultaram 5 mortos e 10 feridos entre as tropas.

2 de Agosto – Libertação de 92 ex-militares do PAIGC pelas autoridades portuguesas da Guiné, entre os quais Rafael Barbosa.

9 de Agosto – Mais um ataque a Jabadá.

12 de Agosto – A guerrilha sofreu um forte revés no Senegal. Durante um reconhecimento aéreo da FAP, foi detectada uma viatura de carga (FF556CN) pertencente ao PAIGC, na região de Faquina Mandinga, junto à fronteira norte. Na sequência da informação, tropas helitransportadas recolheram cerca de vinte e quatro toneladas de material de guerra. No sul, nas proximidades de Fulacunda, cinco mortos e dez feridos das tropas portuguesas no rebentamento de uma mina A/C.

18 de Agosto – Apresentação feita por Amílcar Cabral, em Argel, de cinco desertores portugueses.

21 de Agosto – Na zona de Mansambo, uma mina anti-carro rebentou quando era transportada na cabeça de um carregador nativo.

Outubro – Instalação na Guiné de um ramo militar da oposição ao regime de Conacri com o apoio das autoridades portuguesas. Estabelecimento de contactos de Senghor com o Governo português para exploração da possibilidade de conversações com os movimentos de libertação para a solução pacifica do problema colonial.

10 de Outubro – Ataque ao quartel de Buba.

17 de Outubro – Uma força militar do BCav 2868 acompanhada por uma equipa da televisão francesa e de jornalistas do "Paris-Match" caiu numa emboscada da qual resultou a morte filmada de dois soldados e de vários feridos. A op. com o nome de "Ostra Amarga" ficou mais conhecida por op "Paris-Match" (Cenas contidas no documentário “Duas Guerras”, de Diana Andringa e Flora Gomes).

Novembro – Utilização pelo PAIGC, dos foguetões de 122 mm, contra Bolama
16 de Novembro – Início da Operação Jove, no Sul da Guiné, "corredor de Guilege", por forças pára -quedistas, em resposta a informações sobre a passagem de uma coluna militar do PAIGC onde seguiria Nino Vieira. Na sequência, em 18 de Novembro, é capturado o capitão cubano Pedro Peralta, a quem foram apreendidos documentos que descrevem os ataques do PAIGC aos quartéis de Buba, Bedanda e Jabadá.

19 de Novembro – Inicio de um seminário de quadros do PAIGC em Conacri, em que Amílcar Cabral aborda os seguintes aspectos: duração da guerra e renovação dos quadros, aspectos económicos da guerra, doutrina portuguesa de unificação cultural e papel da luta armada.

1970

Avanço das acções do PAIGC no terreno




Janeiro – Estabelecimento dos primeiros contactos de militares portugueses do Estado-Maior de Spínola com chefes militares do PAIGC, numa tentativa de aliciamento para estes fazerem parte da futura força africana da Guiné, que se integrava na sua maneira política.
Estabelecimento de uma base de apoio para a Operação "Mar Verde" na ilha de Soga, Bijagós, onde foram reunidos e treinados militares portugueses e elementos da oposição da Guiné-Conacri. Grande ofensiva militar do PAIGC contra as posições portuguesas de Guilege, Guidage, São Domingos e Gadamael.

28 de Janeiro – Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar "não letal".

Fevereiro – Conversações secretas em Dacar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné.

Março – Reorganização das forças do PAIGC, com formação do corpo de exército de Nhacra – Enxalé, numa nova divisão territorial correspondente a novo patamar do seu processo evolutivo previsto por Amílcar Cabral. Confirmada a existência de uma unidade de artilharia do PAIGC equipada com foguetões GRAB-1, 122 mm.
Abril – Referência num discurso em Mansoa, feito por Spínola diante do ministro do Ultramar, Silva Cunha, ao facto de a Guiné estar a viver um grande momento, por se aproximar o fim da guerra.
O Hospital de Koundara aumenta a capacidade, até então de 60 camas, e equipa-se com sala de radiologia e energia eléctrica. Passa a apoiar a Inter-Região Norte, evitando as evacuações para Boké. É para Koundara que são levados os feridos e doentes de toda a Inter-Região Norte. Neste hospital trabalham médicos cubanos, um cabo-verdiano e um norte-vietnamita.
20 de Abril – Morte dos majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório, do alferes Joaquim Mosca e de dois civis, na Zona de Teixeira Pinto, na Guiné, durante uma acção de contacto com elementos do PAIGC.

Maio – Visita de Léopold Senghor aos países escandinavos, declarando em Estocolmo que "tinha proposto um plano de paz aceite por Amílcar Cabral, residindo a dificuldade da sua aplicação na obtenção do acordo dos portugueses".
23 de Maio – Ataque do PAIGC ao navio "Alvor" no rio Cacheu, com lança-granadas-foguete.

25 de Julho – Queda de um Allouette III no rio Mansoa (?), de que resultou a morte dos deputados José Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull.

Em Agosto, os presidentes da Zâmbia e do Senegal declaram a sua disposição de contribuírem para a resolução do problema colonial português. Confirmação da existência de conselheiros cubanos junto do PAIGC pelos comandos militares portugueses.

11 de Agosto – Ataque do PAIGC à lancha "Sagitário", o 13º efectuado a unidades navais ao longo do ano, facto que leva o comandante da Defesa Marítima a salientar a liberdade de movimentos que o inimigo goza na margem sul do Cacheu e a notar a melhoria da eficiência do ataque.

19 de Agosto – Assalto ao navio "Pérola do Oceano", em Cabo Verde, por um grupo de militantes políticos que pretendiam dirigir-se a Dacar.

Setembro – Artigo de Aquino de Bragança na revista "Afrique-Asie" intitulado "Dacar face a Lisboa" analisando as relações entre Portugal e o Senegal na sequência dos acontecimentos nas fronteiras e do plano de Senghor para a solução pacifica da questão colonial.

12 de Outubro – Dois grupos da guerrilha (cerca de 50 elementos cada), um vindo de Sansabato (armas pesadas) e o outro de Queré, utilizando Mort, RPGs e Arm Aut, emboscou uma coluna que se dirigia a Infandre, na região de Mansoa. A emboscada, de rara violência (combateu-se corpo a corpo) causou às tropas 10 mortos, 9 feridos graves, 8 feridos ligeiros e capturou um soldado. Os géneros foram saqueados e foram ainda raptados vários elementos da população. Foi provavelmente o mesmo grupo da guerrilha que às 19H00 desse mesmo dia flagelou Mansoa com 22 tiros de canhão sem recuo.

12 de Novembro – Pedido de Spínola para uma operação na Guiné-Conacri.

17 de Novembro – Aprovação da Operação "Mar Verde" por Marcelo Caetano.

19 de Novembro – Seminário de quadros do PAIGC em Conacry presidido por Amílcar Cabral, onde este declara: "É mais fácil, ou menos difícil, para nós ganhar a guerra de libertação nacional do que garantir ao nosso povo uma vida de trabalho, dignidade e justiça".

22 de Novembro – Início da Operação "Mar Verde", envolvendo um efectivo de 350 homens com 25 objectivos na área da cidade e porto de Conacri, cujo único resultado foi a libertação de militares portugueses prisioneiros. Lembro-me de algumas figuras desta operação – Guilherme Almor de Alpoim Calvão, Alberto Rebordão de Brito, Marcelino da Mata e Zacarias Saiegh – pela participação noutras situações. O Marcelino da Mata (que, segundo consta, se dedicou durante a operação a roubar os relógios dos turistas que se encontravam numa praia da Guiné-Conakry) assinou, juntamente com Rebordão de Brito, um telegrama contra o Congresso dos Combatentes promovido pelo regime de 1 a 3 de Junho de 1973. (Depois do 25 de Abril, Rebordão de Brito e Alpoim Calvão, juntamente com Manuel Carlos Bulhosa, deram o seu apoio à formação, em Espanha, do MDLP. Eles mesmos, mais José Carlos Vilardebó Sommer Champalimaud, Miguel Vilardebó Champalimaud, o primeiro-tenente Nuno Manuel Osório Castro Barbieri, o tenente-coronel António da Silva Osório Soares Carneiro, vários elementos da GNR e outros, estiveram implicados na tentativa de golpe contra-revolucionário de 11 e Março de 1975, in Jornal Movimento 25 de Abril, Boletim Informativo das Forças Armadas, Edição Especial N.º 16 de 23 de Abril de 1976. O então capitão da 1.ª Companhia de Comandos Africanos Zacarias Saiegh, disse-me quem sabe, comandou uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau a mando de Spínola, após o 25 de Abril. Interrogo-me se isso não terá tido alguma influência no fuzilamento dos comandos africanos).

29 de Novembro – Comunicado do Comando-Chefe da Guiné a anunciar terem-se apresentado na fronteira os militares portugueses "retidos" na Guiné-Conacry, por se terem conseguido evadir. Na realidade, eram os militares postos em liberdade pela Operação "Mar Verde".

Dezembro – Primeiras notícias da possível aquisição, por parte do PAIGC, de mísseis terra-ar. Conferência do PAIGC, de alto nível, em Zinguichor, em cujo comunicado se refere que durante a luta se evitaria "molestar as populações, incluindo as que vivem sob controlo das forças portuguesas".

1971
Avanço das acções do PAIGC no terreno


Os combatentes do PAIGC, em 1971 tinham que enfrentar 44.505 soldados portugueses. Para além de meios navais e aéreos, destacamos estes últimos:

T-6: 11 aviões
DO-27: 14 aviões
C-47 (Dakota): 2 aviões
G-91 (Fiat): 10 aviões
AL-III: 18 helicópteros
Nord-Atlas: 2 aviões

As forças do PAIGC em 1971 eram as seguintes:
Efectivos por unidade:
- Bigrupo: 38/44 unidades
- Bigrupo reforçado: 70 unidades
- Grupo de artilharia: 50 unidades
- Grupo de canhões/morteiros: 23 unidades
- Grupo de foguetões/antiaéreos: 16 unidades

Efectivos por regiões:

Inter-Região Norte:
- Frente S. Domingos/Sambuiá: 630 unidades
- Frente CanchungoBiambe: 760 unidades
- Frente Morés/Nhacra: 680 unidades
- Frente Bafatá/Gabu Norte: 730 unidades

Inter-Região Sul:
- Frente Bafatá/Gabu Sul: 200 unidades
- Frente Bafatá/Xitole: 160 unidades
- Frente Buba/ Quitafíne: 1230 unidades
- Frente do Quinara: 560 unidades
- Frente de Catió: 370 unidades.

Além destes efectivos, que totalizavam 5500 elementos para o Exército Popular, há que acrescentar cerca de 2000 milícias, 900 a 1000 em cada inter-região, ou seja, o PAIGC não teria mais do que 7500 homens em armas.

Minas:



Janeiro – Primeiras notícias do fornecimento ao PAIGC, pela União Soviética de um míssil terra-ar do tipo Red-eye.
Pirada, Aldeia Formosa (Quebo) e Catió bombardeadas com foguetões 122mm. Bissau e Bafatá debaixo do fogo dos foguetões do PAIGC. Forças do PAIGC misturadas com a população de Casamansa, no Senegal, atacadas pela FAP. A capacidade do hospital de Boké aumentou para 100 camas e foi-lhe acrescentado um pequeno centro de reabilitação para diminuídos físicos e uma maternidade. Do corpo médico fazem parte médicos cabo-verdianos, jugoslavos, soviéticos e cubanos.

Este ano fica marcado por um incidente que veio a ter sérias repercussões na vida do PAIC. No decorrer da reunião anual do Conselho Superior de Luta (CSL), Inocêncio Kani (futuro assassino de Cabral) foi expulso da direcção.

Fevereiro – Participação do PAIGC na conferência ministerial para África do Conselho Económico e Social da ONU.

31 de Março – O Comando-Chefe da Guiné, em documento oficial, declara que "A situação continua caminhando para novo e rápido agravamento face à crescente pressão militar do inimigo, passível de suplantar a nossa capacidade de defesa das populações".

9 de Junho, Bissau flagelada pelo PAIGC.

Outubro – Actividade operacional do PAIGC na zona de Duas Fontes, no Leste da Guiné, com emboscadas e minas, causa 5 mortos e 4 feridos às tropas portuguesas.

Operação "Com Raça" das forças portuguesas na Zona de Caboiana / Churo, Oeste da Guiné, CAOP 1, com resultados significativos. Operação "Novidade" das forças portuguesas, na zona de Tite, no Sul da Guiné, com captura do chefe das populações balantas do Quinara, de nome Manquiante. Operação "Diamante Pardo" executada por duas companhias de comandos africanos na zona de Nhaga, Oeste da Guiné, com estabelecimento de vários contactos com forças do PAIGC. Emboscadas e minas no leste causam 5 mortos e 4 feridos entre as tropas portuguesas.

Outubro: Amílcar Cabral, recebido em Londres pelo líder do Partido Trabalhista britânico, reafirma a vontade de solucionar o conflito sem condições prévias.
Novembro – Acção de duas companhias de comandos africanos, na zona de Campará, no sul da Guiné.

Dezembro – Amílcar Cabral, em visita a Moscovo, obteve dos soviéticos a promessa do fornecimento de mísseis terra-ar Sam-7, para o 1º trimestre do ano seguinte. No regresso a Conakry, escolheu a equipa que os ia manusear, que seguiu de imediato para Moscovo a fim de receber a indispensável formação.

Em Dezembro estavam registadas 46 tabancas organizadas em auto-defesa, 341 com armamento distribuído e 26 em que os seus elementos colaboravam com as tropas portuguesas, perfazendo um total de 11.163 armas distribuídas à população (Com.Che. das FA da Guiné, Relatório de Comando, Secreto, 1971). Ainda segundo este relatório, a administração portuguesa controlava 487.448 indivíduos e o PAIGC 107.200, distribuídos pelo Senegal (60.000), Gâmbia e República da Guiné-Conakry (20.000) e 27.200 dentro do território. Calculava-se que, relativamente ao total da população da Guiné, cerca de 13% estava refugiada nos países limítrofes.

12 de Dezembro – Às 09h00, uma companhia do Exército desembarca da LDG "Bombarda" em Cadique (Cantanhez), na península dos rios Cumbijã e Cacine. Apoiados pela aviação, na presença do General Spínola, dão início à operação "Grande Empresa" que tinha por objectivo ocupar algumas posições na mata até então praticamente nas mãos da guerrilha.

20 de Dezembro – Operação "Safira Solitária" realizada por duas companhias de comandos africanos na zona de Morés, Oeste da Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC. Disse o Comunicado Especial do Comando-Chefe: "...Montada a operação, denominada 'Safira Solitária', foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve início ao alvorecer do dia 20 prolongando-se até à tarde de 26, tendo as nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das posições inimigas. Apesar de colhido de surpresa o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2 grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de 333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias tenaz resistência acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de feridos. Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos mais 4 elementos cubanos. Verificou-se que o inimigo estava implantando no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal. Os grupos de guerrilha, pela resistência que ofereceram revelaram uma sensível melhoria de enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição. No decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recuo B-10, 2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7 lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições, fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessários. As nossas forças sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros."

Amadu Bailó Djaló, alferes da 1ª Companhia de Comandos Africanos, conta que o seu grupo não participou no inicio da operação, e quando se juntou aos restantes comandos, estes estavam concentrados na zona dos cajueiros do Morés, que era perto da barraca central. Quando lá chegou começava a anoitecer, e apercebeu-se que já estavam ali desde o meio-dia, pelo que alertou para o perigo que isso representava, mas responderam-lhe, que se atacassem era bom, era a maneira como lhe apanhavámos todas as armas, pois estavam ali 200 comandos. Quando a noite caiu, o PAIGC atacou, um violento e certeiro bombardeamento de morteiros, provocou de imediato muitos feridos, e uma fuga precipitada para outra posição, lançando a confusão.
Tivemos que fugir rapidamente para outra posição, pois as granadas caíram mesmo em cima de nós. Mas depois regressei novamente ao local onde tinha estado, dado ter deixado lá a minha arma. Quando procurava a arma, uma voz chamou-o, era um soldado ferido, disse-lhe que estava ferido nos pés, como estava muito escuro, apalpou-lhe os pés para ver como estavam, eram uma massa de sangue, foi chamar o enfermeiro. O enfermeiro chamou-o à parte e disse-lhe que não havia nada a fazer, ele iria morrer durante a noite, pois iria esvaziar-se em sangue até de manhã, altura em que poderia ser evacuado. Amadu voltou para se juntar ao grupo, mas no caminho chamaram-no novamente, era outro soldado ferido numa perna, parecia que tinha um tendão cortado, mas não teve tempo para o ajudar. A resposta dos comandos ao poder de fogo do PAIGC revelava-se insuficiente, e o IN avançava rapidamente no terreno, ao assalto às posições dos comandos, pelo que lhe disse que voltaria para o vir buscar (quando lá voltou tinha sido morto pelo PAIGC com um tiro na cabeça).

Amadu juntou-se ao seu grupo, e recuaram novamente, inicialmente queriam recuar para a zona das bananeiras, que era um local escuro e que dava alguma protecção, mas a Amadu pareceu-lhe demasiado óbvio, e disse para recuarem para o meio do capim, local com pouca protecção.

O PAIGC bombardeou com morteiros a zona das bananeiras, suspeitando que nós estávamos lá, e passou perto de nós da zona do capim, gritavam: Cú, Cú...Comando. Aparece se és homem, mas ficamos calados - comenta Amadu. Os confrontos pararam, pois conseguiram não ser detectados, e ao amanhecer deslocaram-se para uma zona, onde pudessem evacuar os feridos, mas ai receberam ordem para regressar, e o assalto à barraca central nunca se efectuou.

Quebá Sedi combateu desde 1963 até 1974, foi chefe de um bi-grupo no Morés, e lembra-se bem da operação ocorrida em Dezembro de 1971, em que a tropa veio passar o natal com os combatentes pela liberdade da pátria. Segundo as suas palavras, o que se passou foi o seguinte: Primeiro veio uma avioneta que andou a sobrevoar a mata, depois durante 13 dias, bombardeiros, helicópteros, e os canhões do Olossato, Bissorã, Cutia e Mansabá, bombardearam de dia e de noite o Morés. No fim dos bombardeamentos, devem ter pensado que estava tudo morto, e helicópteros trouxeram as tropas, que largaram em várias zonas, à volta do Morés. Os combatentes fizeram-lhes duas emboscadas, mas depois perderam-lhes o rasto, muita gente pensou que se tivessem ido embora, pois não se ouvia nada. As tropas tinham-se reunido no Morés, na zona dos cajueiros, muito perto da barraca grande do Morés, era véspera de Natal, e era sua intenção atacar a barraca grande do Morés, no dia seguinte, pelo que passaram aqui a noite. Um homem grande detectou o brilho de um cigarro, de um soldado que estava de pé a fumar, com a arma ao lado, e foi avisar os combatentes da barraca grande. O comandante da barraca grande era Abu Ladja, mas existiam ali outros comandantes como Lamam Sisse, Dique Daringue, e outros. Gerou-se alguma discussão se era mesmo tropa que estava ali, pois não queriam ir bombardear a população, uns diziam "É tuga", outros "É cá tuga"! Dique Daringue foi encarregado de investigar, e os combatentes levaram 2 morteiros 60 e 2 morteiros 82. Dique Daringue para ter a certeza de que era tropa mandou disparar uma rajada, em resposta ouviu-se falar português, eram tugas, e abriu-se fogo. As tropas tiveram muitos mortos e feridos, foram apanhadas muitas armas e um rádio. As tropas também conseguiram apanhar algumas armas, pois dias antes tinham encontrado em Bongontom uma arrecadação com armas velhas, e outra com armas novas no Morés. (Publicado em 21/05/2006, e revisto em 1/08/2007 por Carlos Fortunato)

1972
Minas:


24 de Janeiro – Golpe de mão de guerrilheiros do PAIGC, comandados por Queba Sambu, a Catió, no Sul da Guiné, durante o qual foram feitos prisioneiros dois militares portugueses.

27 de Janeiro – Convite do PAIGC ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às "áreas libertadas da Guiné-Bissau".

1 de Fevereiro – Amílcar Cabral discursa no Conselho de Segurança da ONU, reunido em Adis Abeba, facto que ocorre pela primeira vez.

4 de Fevereiro – Resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza o envio de uma missão de visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau.

Março – Alerta de Amílcar Cabral contra um plano para liquidar o partido e o seu secretário-geral. Encontros secretos entre delegações de Portugal e do Senegal para a criação de uma comissão mista para controlo das fronteiras.

9 de Março – Ataque do PAIGC ao aeroporto de Bissalanca, próximo de Bissau.

27 de Março – Concessão pelo Governo norueguês, de um subsidio ao PAIGC.

2 de Abril – Início de uma visita efectuada por uma missão especial das Nações Unidas às zonas da Guiné-Bissau controladas pelo PAIGC.


17 de Abril – Carta de Spínola a Marcelo Caetano em que considera que "não ganharemos esta guerra pela força das armas". Será que Spínola não tinha conhecimento das nossas capacidades e meios para ganhar a guerra? Na região do Quirafo (Contabane), uma coluna do Exército Português (da CCaç 3490, Saltinho) foi emboscada por uma força do PAIGC, comandada por Paulo Malú, armada de canhão sem recuo, RPG 7 e armas automáticas. Desbaratada e posta em fuga a coluna sofreu 12 mortos, 6 feridos e um desaparecido, o soldado António Baptista. A guerrilha encontrou-o, fingindo-se de morto. Levado para a fronteira nesse mesmo dia, à noite, um camião vindo de Boké transportou-os para Conakry onde chegaram (o prisioneiro e ele, Malu) de manhã cedo. Foi libertado em 14 de Setembro de 1974, perante a estupefacção dos que o julgavam morto. De facto, o funeral, com honras militares, do soldado Baptista tinha sido feito, encontrando-se ainda há pouco tempo um corpo (presume-se ser o do soldado António Oliveira Azevedo) no lugar do dele, no cemitério de Moreira da Maia.

25 de Abril – Visita dos adidos militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e África do Sul à Guiné.

18 de Maio – Encontro de Spínola, acompanhado do director da Pide em Bissau (Fragoso Allas, grande amigo de Spínola, e a quem este prometeu, após o 25 de Abril, que libertaria os pides, menos os altos dirigentes) e do major Hugo Rocha, com Leopold Senghor, próximo da fronteira com a Guiné (em Cap Skiring), no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito.

19 de Maio – Recondução de Spínola nos cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

26 de Maio – Encontro de Marcelo Caetano com Spínola, a quem este transmite os resultados do seu encontro com Senghor. Sobre este encontro escreveu Marcelo Caetano: "Passado tempo, Senghor começava a fazer saber ao general Spínola que gostaria de falar com ele. Ciente do facto, o Governo autorizou o general a encontrar-se com o presidente do Senegal, o que teve lugar numa povoação senegalesa, Cap Skiring, próxima da fronteira portuguesa, em meados de 1972. O general Spínola veio depois, num salto, a Lisboa dar conta do que se passara.

Na entrevista surgira a hipótese de um encontro Spínola – Amílcar Cabral para se negociar um cessar-fogo preliminar do acordo pelo qual se esperava que o PAIGC passaria a colaborar com os portugueses no Governo do território.

Observei ao general que por muito grande que fosse o seu prestígio na Guiné – e eu sabia que era enorme – ao sentar-se à mesa das negociações com Amílcar Cabral ele não teria na frente um banal chefe guerrilheiro, e sim o homem que representava todo o movimento anti-português, apoiado pelas Nações Unidas, pela Organização da Unidade Africana, pela imprensa do mundo inteiro. Assim, ia-se reconhecer oficialmente o Partido que ele chefiava como sendo uma força beligerante e reconhecia-se mais, que essa força possuía importante domínio territorial, uma vez que aceitávamos negociar com ela um armistício (ou cessar-fogo) como preliminar de um acordo. (...).
A dificuldade do problema da Guiné estava nisto: em fazer parte de um problema global mais amplo, que tinha de ser considerado e conduzido como um todo, mantendo a coerência dos princípios jurídicos e da política que se adoptasse.

E foi aqui que, no decurso da conversa, fiz a afirmação chocante para a sensibilidade do general, dizendo mais ou menos isto:

– Para a defesa global do Ultramar é preferível sair da Guiné por uma derrota militar com honra do que por um acordo negociado com os terroristas, abrindo o caminho a outras negociações.
– Pois V. Exa. preferia uma derrota militar na Guiné? – Exclamou escandalizado o general.
– Os exércitos fizeram-se para lutar e devem lutar para vencer, mas não é forçoso que vençam. Se o exército português for derrotado na Guiné depois de ter combatido dentro das suas possibilidades, essa derrota deixar-nos-ia intactas as possibilidades jurídico-políticas de continuar a defender o resto do Ultramar. E o dever do Governo é defender todo o Ultramar. É isso que eu quero dizer." In Depoimento, Rio de Janeiro, Record, 1974, p. 189.
Estava visto que o poder político já aceitava que houvesse uma derrota na Guiné. E é a partir dessa data que Senghor, sabendo da recusa de Marcelo Caetano em autorizar o prosseguimento da via que ele e Spínola haviam tentado, disponibiliza abertamente os seus territórios ao PAIGC e dá-lhe total apoio.

28 de Julho – Agravamento pelo Supremo Tribunal Militar, para dez anos de prisão da pena do capitão cubano Pedro Peralta.

Agosto – Criação pelo Estado-Maior-General de uma rede de informações para actuar em diversos países africanos, chefiada por Alpoim Calvão.

Setembro – No plenário da ONU, Amílcar Cabral anunciou para muito breve a declaração unilateral da Independência da Guiné.

21 de Setembro – Estado de sítio na cidade da Praia, Cabo Verde, após confrontos entre populares e forças militares.

24 de Outubro – Carta de Spínola a Marcelo Caetano, solicitando autorização para se encontrar com Amílcar Cabral, que foi negada.

18 de Dezembro – Um comandante do PAIGC refere, numa reunião com populações do interior, a utilização de uma nova arma contra as forças portuguesas na região do Cantanhez, anunciando a entrada em acção do míssil terra-ar.

31 de Dezembro – Em documento oficial o comando militar português na Guiné prevê a utilização, pelo PAIGC, de canhões antiaéreos, lançadores múltiplos de foguetões, viaturas anfíbias, PT-76 e BTR-40 e carros de combate T-34, aumentando o seu potencial bélico.

Até 1972 as forças portuguesas alternaram êxitos com fracassos. Os maiores êxitos foram a construção de estradas alcatroadas nos limites de zonas libertadas pelo PAIGC, a estrada Bula-Có-Pelundo-Teixeira Pinto-Cacheu, junto à Coboiana, a estrada Mansoa-Mansabá-K3-Farim, que toca no sul do Mores, e a estrada do Leste, que liga a cidade de Bafatá ao rio Geba/Corubal e às fronteiras com o Senegal e Guiné-Conacry. No Sul, mantêm-se abertas as vias que ligam Buba a Aldeia Formosa.

As guarnições da fronteira norte resistem, mas Madina do Boé e o destacamento de Béli tinham sido abandonadas, deixando vazio um vasto espaço entre o rio Corubal e a fronteira. Também a posição de Gandembel deixa de fazer parte do dispositivo territorial. Nesse ano de 1972, o PAIGC realizou 765 acções de sua iniciativa, contra 708 em 1971.

1973

Segundo o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, as tropas portuguesas registaram 210 mortos na Guiné durante o de 1973. No final deste ano contavam-se 550 Kms de estradas alcatroadas no território.

8 de Janeiro – Amílcar Cabral anuncia que o Estado da Guiné-Bissau será proclamado em 1973.

20 de Janeiro – Assassínio de Amílcar Cabral.

27 de Janeiro – Mensagem de exortação dos dirigentes do PAIGC aos combatentes na sequência da morte de Amílcar Cabral, assinada por Aristides Pereira, Luís Cabral, Chico Mendes, Victor Saúde Maria, Silvino da Luz e Paulo Correia.

1 de Fevereiro – Simpósio dedicado à memória de Amílcar Cabral em Conacri, com a presença de 680 delegados de vários países e organizações de todo o mundo.

20 de Fevereiro – Durante um patrulhamento na mata do Cantanhez, um grupo da Companhia estacionada em Cadique deitou a mão a 24 granadas de canhão s/recuo e a 1 de RPG 2.

Março – A tropa do Saltinho recolheu um militar que conseguiu escapulir-se da guerrilha que o mantinha prisioneiro. Era um soldado de uma Companhia de Cancolim que tinha sido capturado pelo PAIGC quando se dirigia sozinho em direcção ao seu pelotão que tinha saído para um patrulhamento nocturno. Recusara-se a sair e, cerca de uma hora depois decidiu ir ao encontro dos seus camaradas. Teve um mau encontro, deu de caras com tropas do PAIGC que se preparavam para atacar o destacamento e foi capturado. No dia seguinte, a tropa encontrou munições de G-3 que presumivelmente lhe pertenceriam e deu-o como desaparecido.

6 de Março – Carta de António de Spínola a Marcelo Caetano sobre a evolução da situação na Guiné e a necessidade de medidas de natureza politica.

20 de Março – O Ten Cor Almeida Brito e o Maj Pessoa, aos comandos de uma parelha de Fiats G-91 da FAP avistaram um míssil em Campada.

22 de Março – O Furriel Moreira num T-6 vê passar-lhe ao lado um projéctil que admitiu ser um míssil.

25 de Março – Primeira utilização dos mísseis terra-ar Strella pelo PAIGC, responsáveis pela queda de um Fiat G-91 pilotado pelo tenente Pessoa.

6 de Abril – Um Do-27 pilotado pelo Furriel Baltazar é atingido e despenha-se, morrendo o piloto. Outro Do-27 pilotado pelo Furr Carvalho Ferreira, em viagem de Farim para Bigene, desapareceu com quatro passageiros a bordo. O Major Mantovani morre aos comandos de um T-6. O outro piloto que "ia em asa", o Alf Henriques, viu um rastro de fumo vindo do solo.

25 de Abril – Coube a vez ao Ten Pessoa, que se conseguiu ejectar, sendo recuperado no dia seguinte por um Gr Cmds.

28 de Abril – O Ten Cor Almeida Brito aos comandos do Fiat G-91 morre ao despenhar-se com a aeronave abatida por um SAM-7 "Grail".

Maio – O PAIGC desencadeou 220 acções militares neste mês.

8 de Maio – Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné.
Todos os acessos a essa povoação foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa teria cerca de 200 homens, na maioria do recrutamento da província, com as suas famílias, existindo em redor do quartel uma pequena aldeia com cada vez menos habitantes. Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de 650 a 700 os efectivos que empenhou nesta operação, comandados por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo comissário político Manuel dos Santos( Manecas), que era o responsável pelos mísseis em todo o território.

Minas, emboscadas, abates de Fiats G-91, Dorniers, helis, houve de tudo naquele interminável mês (a acção durou desde 8 de Maio a 8 de Junho). Na zona de Guidage estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors Matos Gomes e Aniceto Afonso. Em 20 dias de cerco, Guidage sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros. 39 mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas, três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27) foi o saldo negativo para as forças portuguesas.

15 de Maio – Reunião de comandos militares em Bissau, durante a qual Spínola declara "Encontramo-nos indiscutivelmente na entrada de um novo patamar da guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios".

17 de Maio – Início da Operação "Ametista Real", em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Kumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da op "Ametista Real", as tropas portuguesas reclamaram a destruição de mais de quatro centenas de armas automáticas, mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc. No decorrer da operação o BCmds sofreu catorze mortos e vinte e três feridos graves.

O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Kumbamori: Corpo de Exército (CE) 199/B/70, com quatro bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; Corpo de Exército (CE) 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; Grupo de Foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; Três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bateria de artilharia do CE 199/A/70, deslocadas de Sare Lali (Zona Leste). Foram ainda referenciados em Kumbamori, um pelotão de morteiros de 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro.

18 de Maio – Início da Operação "Amílcar Cabral" realizada por forças do PAIGC contra o quartel de Guilege, no sul da Guiné. Este ataque foi conjugado com o de Guidage, pretendendo o PAIGC isolar as guarnições de fronteira. Cinco dias depois, o comandante português, o Maj Artª Coutinho e Lima, contrariando as ordens de Spínola, decidiu abandonar a praça forte na zona sul do território. Elementos da população ofereceram alguma resistência mas, face à decisão inabalável de Coutinho e Lima, decidiram-se por seguir com a tropa. No local, as tropas portuguesas deixaram para trás três peças de artilharia e documentos sobre a disposição das forças em todo o território da Guiné. Peças e documentos que muito jeito deram às forças de guerrilha, segundo vieram a dizer mais tarde dirigentes do PAIGC. O major Coutinho e Lima, para justificar o seu acto, diz ter tido a preocupação de poupar as 600 vidas que lhe estavam confiadas. Outros militares, embora se recusem a condenar publicamente um camarada, atribuem-lhe o único abandono em treze anos de guerra de um aquartelamento português e alguns interrogam-se do que teria acontecido a Guidage, se em vez do Coronel Correia de Campos tivesse sido Coutinho e Lima o comandante. As consequências do abandono de Guileje tiveram enorme repercussão. Pela primeira vez, pelo menos de uma forma tão pública e que o PAIGC aproveitou em todos os palcos internacionais, o Exército Português mostrava fracturas tão assinaláveis. Na sequência, tentando aproveitar o "efeito dominó", as tropas do PAIGC deslocaram todo o esforço para o aquartelamento vizinho, Gadamael, que passou a ser atacado do território da Guiné-Conakry várias vezes ao dia, com enorme violência (morteiros 82 e 120, foguetões de 122mm, conhecidos pelos jactos do Povo e bocas de Artª de 130 mm, com alcance até trinta quilómetros). A guarnição, tal como a de Guidage, embora com custos elevados (38 mortos e 55 feridos entre 13 e 27 de Maio), manteve-se estoicamente. No seu livro "Gadamael", o Sargento pára-quedista Carmo Vicente escreveu: "tombaram para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses".

22 de Maio – Retirada da guarnição portuguesa do quartel de Guilege, no sul da Guiné, para Gadamael-Porto.

25 de Maio – Visita à Guiné de Costa Gomes, chefe do Estado-Maior-General.

31 de Maio – Agravamento da situação em Gadamael-Porto, em consequência da pressão militar do PAIGC e da retirada da guarnição de Guilege.
Durante o mês de Maio, o PAIGC realizou 220 acções militares de sua iniciativa, o valor mais elevado desde o início da guerra.

18 de Julho – Início do II Congresso do PAIGC no interior da Guiné, em que Aristides Pereira é eleito novo secretário-geral do partido e feita a convocação da primeira sessão da Assembleia Nacional Popular que deverá proclamar a independência da Guine-Bissau.

31 de Julho – Aristides Pereira anuncia que cinco indivíduos, julgados pelo assassínio de Amílcar Cabral, foram fuzilados.

6 de Agosto – Regresso de António de Spínola a Portugal, vindo a ser substituído nos cargos que desempenhava na Guiné.

18 de Agosto – Reunião de duas dezenas de capitães na sala de jogos do Clube Militar, em Bissau. Analisa-se a legislação considerada afrontosa (Decreto-Lei 353/73), ética e materialmente, para a maioria dos capitães do QP. Discute-se a atitude a tomar e escolhe-se uma comissão para elaborar um projecto de carta a enviar às mais altas entidades das Forças Armadas e do Exército e ainda ao Ministro da Educação.

21 de Agosto – Reunião de oficiais em Bissau, em que é aprovado o texto de uma exposição a enviar às altas entidades militares e políticas sobre as novas disposições acerca das carreiras militares.

25 de Agosto – Leitura e discussão final do documento que recolheu 51 assinaturas. Foi constituída uma Comissão do Movimento dos Capitães, integrada pelo major Almeida Coimbra e capitães Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano. Substituição de António de Spínola por Bettencourt Rodrigues, que tomará posse em Setembro dos cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné.

1 de Setembro – Mais um Fiat G-91 (Cap. Carlos Wanzeller) da FAP foi atingido por fogo antiaéreo de.50 polegadas (12,7).

5 de Setembro – Envio de uma exposição colectiva às altas entidades, assinada por 51 oficiais em serviço na Guiné.

13 de Setembro – Otelo Saraiva de Carvalho, em fim de comissão, reúne pela última vez numa sala do Grupo de Artilharia de Campanha de Bissau, recebendo a incumbência de, em Lisboa, se integrar no Movimento, sendo porta-voz das preocupações dos seus camaradas.

24 de Setembro – Proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau feita pelo PAIGC, em Madina do Boé, no interior do território.

4 de Outubro – Coube a vez de ser atingido por mais um Strella o Fiat G-91 pilotado pelo Cap Roxo da Cruz.

18 de Outubro – Reunião do Movimento dos Capitães em Bissau e Luanda, decidindo-se, em ambos os lados, prosseguir a mobilização dos oficiais, apesar da suspensão dos decretos.

1974

Janeiro – Em meados do mês, o BCmds Africanos efectuou a op "Neve Gelada", na zona de Canquelifá, com o objectivo de aliviar a pressão do PAIGC sobre aquela povoação fronteiriça (sem reabastecimentos há cerca de um mês). Com duas CCmds, saídas há cerca de duas horas em direcção aos objectivos do PAIGC (bases de fogos de Artª e foguetões) localizados no interior da Guiné-Conakry a dois ou três kms da fronteira, recomeçaram os bombardeamentos ao quartel. Referenciada a base de fogo, uma CCmds atacou do interior da Guiné-Conakry para a fronteira, apanhando assim o IN pela retaguarda, o que obrigou este a debandar, abandonando 5 morteiros e centenas de granadas.

21 de Janeiro – Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea, seguidos uma semana depois, de dois outros engenhos do mesmo tipo num café da mesma cidade, frequentado por militares portugueses.

31 de Janeiro – Mais um Fiat G-91 (Ten. Castro Gil) da FAP abatido por um Strella.

14 de Fevereiro – Carta do Movimento dos Capitães da Guiné sobre a situação geral e a necessidade de ser passar à acção contra o regime.

22 de Fevereiro – Rebentamento de uma carga explosiva no Quartel-General do Exército de Bissau, tendo ficado ferido o segundo-comandante, acção reivindicada pelas Brigadas Revolucionárias.

Março – Neste mês, algumas unidades dispersas pelo território receberam uma mensagem assinada pelo Ten Cor Banazol, em nome do "Movimento de Resistência das Forças Armadas", apelando à rebelião e programando uma operação de retracção do dispositivo militar para o mês de Maio próximo.
Comparativamente aos dados de 1971 (já referidos) era esta a situação dos meios aéreos:

Disponíveis
(1971/Março 1974)

T-6..........................11 .....................6
DO-27.................... 14 ...................12
C-47 (Dakcota)...... .2..................... 3
G-91 [Fiat).............10.................... 8
AL-III.....................18...... ............15
Nord-Atlas.............. 2.................... 2

Os T6 foram reduzidos por não poderem ser substituídos os abatidos ou acidentados, além de não se mostrarem adequados para este tipo de guerra, nomeadamente após o aparecimento dos Strella. Os Fiat também não puderam ser substituídos, nem os AL-III, e também por dificuldades de manutenção.

Efectivos - Pilotos
1971/Março 1974

Colocados ....................49 ............48
Prontos para voo .......44 ............35

31 de Março – Violento ataque do PAIGC à guarnição militar portuguesa de Bedanda, com utilização de viaturas blindadas.

13 de Abril – Informação do movimento de oficiais da Guiné à comissão de Lisboa de que está preparada para assumir a iniciativa do movimento, caso seja necessário.

20 de Abril – Morre em combate na estrada Teixeira Pinto-Cacheu, em 20 de Abril, Saco Vaz, Comandante do PAICG.

25 de Abril – As unidades militares dispersas pelo território recebem uma mensagem "relâmpago" emitida do Comando-Chefe em Bissau, às 22h45, com a informação de que agências noticiosas estavam a noticiar o derrube do governo de Lisboa. A mesma mensagem incitava os comandos das unidades a estarem prevenidas para um eventual aproveitamento do PAIGC, para manterem a vigilância e garantirem pronta capacidade de reacção, terminando com um alerta: respeitarem apenas ordens depois de devidamente autenticadas. Destituição do Governador da Guiné, Brigadeiro Bettencourt Rodrigues, substituído interinamente pelo Ten Cor Mateus da Silva.

7 de Maio – A Junta de Salvação Nacional nomeia seu delegado com funções de encarregado do governo o Ten Cor Carlos Fabião.

14 de Maio – Aristides Pereira, secretário-geral do PAIGC, apela à união dos guineenses e cabo-verdianos para a luta pela independência total.

15 de Maio – Na zona do Xitole, quando faziam segurança a uma coluna que transportava materiais de construção, tropas portuguesas foram emboscadas, tendo sofrido dois mortos e alguns feridos.

16 de Maio – A República da Guiné-Bissau é admitida na Organização Mundial de Saúde.

17 de Maio – Mário Soares, MNE, iniciou negociações para o cessar-fogo, em Dacar.

24 de Maio – Em Londres, Mário Soares reúne com uma delegação do PAIGC, ficando acordada a paragem dos combates.

5 de Junho – À noite, o quartel do Xitole foi alvo de tentativas de infiltração, tendo sido abatido um elemento atacante.

15 de Junho – Tropas portuguesas em patrulhamento na Ponte dos Fulas (ainda na zona do Xitole) depararam com uma carta, um maço de tabaco "Nô Pintcha" e um isqueiro, dependurados numa árvore em local bem visível. A carta convidava o comandante português para uma reunião nesse mesmo dia e local com elementos do PAIGC.

27 de Julho – Spínola reconhece o direito do povo da Guiné à independência.

26 de Agosto – Em Argel, Portugal e o PAIGC chegam a acordo com vista ao reconhecimento da República da Guiné-Bissau, a acontecer no dia 10 de Setembro de 1974.

Novembro – Embarcou no Uíge o BCaç 4612, a última unidade militar portuguesa ainda presente no território, ficando durante algum tempo na Guiné apenas um pequeno destacamento da Marinha de Guerra Portuguesa.

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Notas de vb:
1. A. Marques Lopes, ex- Alf Mil Inf ( hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro
2. Adapatação do texto da responsabilidade de vb;
3. artigos relacionados em:
12 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3050: A Guerra estava militarmente perdida? (25). Vou pensando em voz alta (I). A. Marques Lopes.